" MENSAGEM DO DIA "
MENSAGENS e POESIAS

OUTUBRO de 2005


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03/Outubro/2005:

“ AS REALIDADES ”

“ Era uma vez uma realidade.
Com as suas ovelhas de lã real,
a filha do rei passou por ali
E as ovelhas baliam, que linda ela está,
a re a re a realidade.

Na noite, era uma vez
Uma realidade que sofria de insônia.
Então, chegava a madrinha fada
e realmente, levava-a pela mão
a re a re a realidade.

No trono, havia uma vez
um velho rei, que se aborrecia
e pela noite perdia o seu manto,
e por rainha puseram-lhe ao lado
a re a re a realidade.

CAUDA: dade dade a reali
dade dade a realidade.
A real a real
idade idade dá a reali
ali
a re a realidade
era uma vez a REALIDADE. ”

( Louis Aragon - 'Biografia' - 1897/1982 )

04/Outubro/2005:

“ SAUDAÇÕES À KARDEC ”

“ Ressurge a aurora, é novo sol que se agiganta,
Medievas sombras se obliteram em meio à luz,
Erguem-se vozes das tumbas, a alma canta,
Radiosa era prometida por Jesus.

Avança a caravana, semeia celeste mensageiro,
Por toda parte, sábios, peregrinos da esperança,
Nasce Kardec, vibram os céus no mundo inteiro,
Lyon é o berço, a pátria, a celebrada França.

A morte é vida; a dor, orvalho que engrandece,
Prega o Evangelho que consola em novas lidas,
São muitas voltas que a alma dá, nunca fenece,
Em novos corpos, róseas faces, novas vidas.

Espiritismo, divino facho que esclarece e aponta,
No rumo certo, o Pai, que a sementeira aguarda,
Cristo é caminho, verdade, é vida que desponta,
Allan Kardec fonte pura à retaguarda ! ”

( Ismael Gobbo - 'Biografia' - 1947/**** )

05/Outubro/2005:

“ GRATIDÃO A DEUS ”

“ Quando a sombra da tristeza
cobrir seus sonhos de ventura.
Quando você quiser chorar
diante da taça da amargura.

Quando a dor bater à porta
ferindo bem fundo o coração.
Quando a esperança é morta
e a vida amarga ilusão.

Olhe para trás,
veja quanta dor!
Súplicas de paz
clamando amor!

Olhos sempre em trevas!
Mãos mendigam pão!
Bocas que não falam
e risos sem razão...

Deixe de chorar!
Volte a sorrir.
Você é tão feliz
volte a cantar!

Faça uma prece,
seja grato à Deus!
Ele sempre abençoa
os filhos seus ! ”

( João Cabete - 'Biografia' - 1919/1987 )

06/Outubro/2005:

“ POEMA A HUGO GONÇALVES ”

“ Ele prega e faz o Bem,
Mostra a trilha da Verdade,
Não fala mal de ninguém,
Se porta com humildade
Em qualquer situação.
Por isso é sempre benquisto.

Quem Hugo é, já sabemos!
Mas... em outra encarnação
Contemporânea à de Cristo?
Terá sido Nicodemos,
Simeão, o cireneu,
O publicano Zaqueu,
Ou o Lázaro dormente
Que o Mestre foi acordar?
Não foi nenhum fariseu,
Sacerdote nem escriba,
Pois sua vida se estriba
Numa conduta decente,
Não deixando o que falar.

Quem terá sido esse homem
Que possui uma energia
Que nem os anos consomem?
Que vive na Caridade,
Que tanto amor irradia,
Mesmo ante a maldade?
Que atende a tanta gente,
Que de Deus exalta a glória,
Que qual cometa esplendente
Só deixa na trajetória
Fagulhas de paz e luz?
Não sabemos. Mas é certo
Que escutou, bem de perto,
A meiga voz de Jesus !... ”

( Geraldo Peixoto de Luna - 'Biografia' - ****/**** )

07/Outubro/2005:

“ SUGESTÃO ”

“ Sede assim... qualquer coisa...
serena, isenta, fiel

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite,
sussurrante de silêncios...
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música...
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa...
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens... ”

( Cecília Meireles - 'Biografia' - 1901/1964 )

10/Outubro/2005:

“ É DIREITO DO HOMEM ”

“ Deveria ser direito de cada homem,
Morar, pelo menos em algum casebre,
Por mais simples,
Singelo,
Mas quentinho, aconchegante
Que o abrigasse da chuva e do vento gélido.

Deveria ser direito de cada homem,
Comer bem,
Bem no sentido de proteicamente falando,
Não de quantidade,
Não de 'encher o buxo' de farinha!
Não!

Deveria ser direito de cada homem,
Ter educação,
Não só a de base, mas a de berço,
Da escola,
Lá aprender o que interessa,
Não o que interessa aos 'HOMENS', sabe?

Deveria ser direito de cada homem,
Ter saúde,
Ter como ir ao médico,
Não só de posto de saúde,
Mas médico de corpo e de alma.

Deveria ser direito de cada homem,
A LIBERDADE,
Essa ninguém compra,
Só sabe disso quem não a tem.

Deveria ser direito de cada homem,
Poder amar sem limite,
Poder caminhar de mãos dadas sem se envergonhar,
Poder beijar sem melindres e sem maledicentes olhares,
Todos invejosos por sabermos usar o direito de amar! ”

( Cris Passinato - 'Biografia' - 1973/**** )

11/Outubro/2005:

“ ÀS VEZES ”

“ Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?... ”

( Álvaro de Campos - 'Biografia' - 1888/1935 )
um dos heterônimos de Fernando Pessoa

13/Outubro/2005:

“ LEMBRANÇA DE MORRER ”

“ Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
– Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai… de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei… que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores…
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo…
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos…
Deixai a lua pratear-me a lousa! ”

( Álvares de Azevedo - 'Biografia' - 1831/1852 )

14/Outubro/2005:

“ JOSÉ ”

“ E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta ?
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,}
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...

Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, para onde ? ”

( Carlos Drummond de Andrade - 'Biografia' - 1902/1987 )

17/Outubro/2005:

“ LUA BRANCA ”

“ Ó, lua branca de fulgor e desencanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda . comigo
Ai, por quem és, desce do céu, ó, lua branca
Essa amargura do meu peito, ó, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim ! ”

( Chiquinha Gonzaga - 'Biografia' - 1847/1935 )

18/Outubro/2005:

“ DIA DO MÉDICO ”

“ Por nos ter trazido à luz...
Por nos ter ajudado a manter a vida e a esperança...
Por suas mãos especiais e sabedoria ,
Que nos aliviou a dor, física e espiritual ...
Que reconstruiu a nossa fé ,
Pelo dom Divino e especial de ser amigo ,
além de competente profissional,
A nossa homenagem e eterna gratidão ! ”

( Raphael Mercaldi - 'Biografia' - 1942/**** )

19/Outubro/2005:

“ TIRANA ”

“ Minha Maria é bonita,
Tão bonita assim não há;
O beija-flor quando passa
Julga ver o manacá.

Minha Maria é morena,
Como as tardes de verão;
Tem as tranças da palmeira
Quando sopra a viração.

Companheiros! o meu peito
Era um ninho sem senhor;
Hoje tem um passarinho
P’ra cantar o seu amor.

Trovadores da floresta!
Não digam a ninguém, não!...
Que Maria é a baunilha
Que me prende o coração.

Quando eu morrer só me enterrem
Junto às palmeiras do val,
Para eu pensar que é Maria
Que geme no taquaral...”

( Castro Alves - 'Biografia' - 1847/1871 )

20/Outubro/2005:

“ ÁFRICA ”

“ Na partilha das sáfaras conquistas
Desta Líbia de mouros rancorosos,
O Deserto foi dado aos Poderosos
E o Oásis, florido e mínimo, aos Artistas.
E os felizes, quais são? Os mil sofistas
Da Ventura, a pedir, de olhos gulosos,
Terra e mais terra? Ou o que limita os gozos
E em sete palmos acomoda as vistas?
Certo, não sereis vós, ó Donatários
Do alvo Deserto, que velais, em guerra,
A áurea carga dos vossos dromedários.
Mas, tu, ó Poeta, que, por onde fores,
Teus sete palmos hás de achar na terra
Abrindo em trigo, rebentado em flores! ”

( Humberto de Campos - 'Biografia' - 1886/1934 )

21/Outubro/2005:

“ DESEJOS VÃOS ”

“ Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!

E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!... ”

( Florbela Espanca - 'Biografia' - 1894/1930 )

24/Outubro/2005:

“ HINO DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA ”
- letra: Medeiros de Albuquerque -
- música: Leopoldo Américo Miguez -

“ Seja um pálio de luz desdobrado
sob a larga amplidão destes céus
este canto rebel, que o Passado
vem remir dos mais torpes labéus!
Seja um hino de glória que fale
de esperanças de um novo porvir!
Com visões de triunfos embale
Quem por ele lutando surgir!

Estribilho
Liberdade! Liberdade!
abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
dá que ouçamos tua voz!

Nós nem cremos que escravos outrora
tenha havido em tão nobre país...
Hoje o rubro lampejo da aurora
acha irmãos, não tiranos hostis.
Somos todos iguais! Ao futuro
saberemos, unidos, levar
nosso augusto estandarte que, puro,
brilha, ovante, da Pátria no altar!

Estribilho
Liberdade! Liberdade! etc.

Se é mister que de peitos valentes
haja sangue no nosso pendão,
sangue vivo do herói Tiradentes
batizou este audaz pavilhão!
Mensageiros de paz, paz queremos,
é de amor nossa força e poder,
mas da guerra nos transes supremos
heis de ver-nos lutar e vencer!

Estribilho
Liberdade! Liberdade! etc.

Do Ipiranga é preciso que o brado
seja um grito soberbo de fé!
O Brasil já surgiu libertado
sobre as púrpuras régias de pé!
Eia, pois, brasileiros, avante!
Verdes louros colhamos louçãos!
Seja o nosso país triunfante,
livre terra de livres irmãos!

Estribilho
Liberdade! Liberdade!... ”

( Medeiros e Albuquerque - 'Biografia' - 1867/1934 )

25/Outubro/2005:

“ TEMPESTADE AMAZÔNICA ”

“ O calor asfixia e o ar escurece. O rio,
Quieto, não tem uma onda. Os insetos na mata
Zumbem tontos de medo. E o pássaro, o sombrio
Da floresta procura, onde a chuva não bata.
Súbito, o raio estala. O vento zune. Um frio
De terror tudo invade... E o temporal desata
As peias pelo espaço e, bufando, bravio,
O arvoredo retorce e as folhas arrebata.
O anoso buriti curva a copa, e farfalha.
Aves rodam no céu, num estéril esforço,
Entre nuvens de folha e fragmentos de palha.
No alto o trovão repousa e em baixo a mata brama.
Ruge em meio a amplidão. Das nuvens pelo dorso
Correm serpes de fogo. E a chuva se derrama... ”

( Humberto de Campos - 'Biografia' - 1886/1934 )

26/Outubro/2005:

“ SAGA DA AMAZÔNIA ”

“ Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador... ”

( Vital Farias - 'Biografia' - 1943/**** )

27/Outubro/2005:

“ SER JOVEM (2)”

Ser jovem é não perder o encanto e o susto de qualquer espera. É, sobretudo,
não ficar fixado nos padrões da própria formação.

Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do respeito ao
imutável. É acreditar um pouco na imortalidade da vida, é querer a festa, o
jogo, a brincadeira, a lua, o impossível, o distante. Ser jovem é ser bêbado de
infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É
não saber de nada e poder tudo.

Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma
canção, antes mesmo de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o
síndico mas reconhecer que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena
dos tristes e ficar ao lado das crianças.

Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope,
gengibre e pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia , é gostar de dormir e
crer na mudança; é meter o dedo no bolo e lamber o glacê. É cantar fora do
tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô. É gostar da barca da
Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater papo com a baiana,
curtir o ônibus e detestar meia marrom.

Ser jovem é beber curvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É
temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não
acreditar no que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É
saber sorrir e alimentar secreta simpatia pelos crentes que cantam na praça
em semicírculo, Bíblia na mão, sonho no coração. É gostar de ler e tentar
silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como obra de Deus. É
ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de
hortelã. É gostar até de talco.

Ser jovem é ter ódio de cachimbo, de bala jujuba, de manipulação, de ser
usado. Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da
empregada e apoiar seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na
grama. É gostar de beijo, de pele, de olho. Ser jovem é não perder o hábito de
se encabular. É ir para ser apresentado ( já conhece fulano) morrendo de
medo. Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir a lua ou conhecer as
Finlândias, Escócias e praias adivinhadas. É sentir cheiro de férias, cheiro de
mãe chegando em casa em dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa nova
ou toalha lá do clube.

Ser jovem é andar confiante como quem salta, se possível, de mãos dadas com
o ar. É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do
não faz mal. É acreditar em frases, pessoas, mitos, forças, sons, é crer no que
não vale a pena mas ai da vida se não fosse isso. É descobrir um belo que não
conta. É recear as revelações e ir para casa com gosto do seu silêncio amargo
ou agridoce. Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos
cheios de capim cheiroso. É ter tédios passageiros, é amar a vida, é ter uma
palavra de compreensão. Ser jovem é lembrar pouco da infância por não
precisar fazê-lo para suportar a vida.

Ser jovem é ser capaz de anestesias salvadoras. Ser jovem é misturar tudo isso
com a idade que se tenha , trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou
dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o que
ainda não desistiu de querer. Ser jovem é viver em estado de fundo musical, de
superprodução da Metro. É abraçar esquinas, mundos, espaços, luzes, flores,
livros, discos, cachorros e a menininha com um profundo, aberto e
incomensurável abraço feito de festa, cocada preta, dentes brancos e dedos
tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e
permanente vontade de SER. ”

( Artur da Távola - 'Paulo Alberto Monteiro de Barros' - 1936/**** )

28/Outubro/2005:

“ DEFICIÊNCIAS ”

“ "Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as
imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter
consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria.
E só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o
apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer
garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da
máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de
sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a maior das deficiências é ser miserável, pois
"Miseráveis" são todos os que não conseguem falar com Deus. ”

( Renata Villela - 'Biografia' - ****/**** )

ERRATA: Na data de 10/JAN/2006, fomos mais uma vez alertados para um problema de autoria. Esta bela poesia, de autoria da Profa. Renata Villela (veja o texto abaixo), circula na WEB como sendo do grande Mario Quintana -1906/1994, e assim foi publicada originalmente em nosso portal. Contatados por 3 vezes pelo Sr. Emílio Dreyer Pacheco, um ardoroso defensor dos direitos autorais, cujo trabalho agradecemos e parabenizamos, ficamos convencidos e com muito prazer desfazemos o equívoco, restabelecendo os créditos a quem de direito!!!
DECLARAÇÃO DE AUTORIA: Profa. Renata Villela - 27/12/2005 23:29
"Há alguns meses recebi uma mensagem dizendo que estava circulando na internet o texto citado como sendo de autoria de Mário Quintana. Confesso que não dei muita importância e até mesmo me senti orgulhosa. Algum tempo depois o Senado Federal publicou o texto no folder de divulgação do Dia Nacional de Valorização da Pessoa com Deficiência. Aí fiquei preocupada e enviei uma mensagem para o senador Flávio Arns, autor do projeto, para esclarecer que o texto era de minha autoria. Não obtive resposta e continuei tocando a vida sem me preocupar com o fato. O texto foi escrito no final de 1990 quando estava me mudando para Minas Gerais. Não entendo como alguém pode atribuir algo tão amador ao grande Mário Quintana. De qualquer forma lhe agradeço e espero que continuem divulgando o texto, mas atribuindo a autoria a mim. Afinal em 1990 Mário Quintana ainda vivia, portanto nem psicografado o texto pode ter sido."

31/Outubro/2005:

“ A BRUXA ”
- a Emil Farhat -

“Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto
estou sozinho na América.

Estarei mesmo sozinho ?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.

De dois milhões de habitantes !
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
Desses calados, distantes,
que lêem verso de Horácio
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
e a essa hora tardia
como procurar amigo ?

E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
que entrasse nesse minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.

Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher ?

Esta cidade do Rio !
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.

Companheiros, escutai-me !
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem. ”

( Carlos Drummond de Andrade - 'Biografia' - 1902/1987 )

 

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