" MENSAGEM DO DIA "
MENSAGENS e POESIAS

SETEMBRO de 2005


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01/Setembro/2005:

“ A QUEIMADA ”

“ Meu nobre perdigueiro! vem comigo.
Vamos a sós, meu corajoso amigo,
Pelos ermos vagar!
Vamos já dos gerais, que o vento açoita,
Dos verdes capinais n’agreste moita
A perdiz levantar!...
Mas não!... Pousa a cabeça em meus joelhos...
Aqui, meu cão!... Já de listrões vermelhos
O céu se iluminou.
Eis súbito da barra do ocidente,
Doudo, rubro, veloz, incandescente,
O incêndio que acordou!
A floresta rugindo as comas curva...
As asas foscas o gavião recurva,
Espantado a gritar.
O estampido estupendo das queimadas
Se enrola de quebradas em quebradas,

Galopando no ar.
E a chama lavra qual jibóia informe,
Que, no espaço vibrando a cauda enorme,
Ferra os dentes no chão...
Nas rubras roscas estortega as matas...,
Que espadanam o sangue das cascatas
Do roto coração!...
O incêndio — leão ruivo, ensangüentado,
A juba, a crina atira desgrenhado
Aos pampeiros dos céus!...
Travou-se o pugilato... e o cedro tomba...
Queimado..., retorcendo na hecatomba
Os braços para Deus.
A queimada! A queimada é uma fornalha!
A irara — pula; o cascavel — chocalha...
Raiva, espuma o tapir!
... E às vezes sobre o cume de um rochedo
A corça e o tigre — náufragos do medo —
Vão trêmulos se unir!
Então passa-se ali um drama augusto...
N’último ramo do pau-d’arco adusto
O jaguar se abrigou...
Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares...
E após... tombam as selvas seculares...
E tudo se acabou! ”

( Castro Alves - 'Biografia' - 1847/1871 )

02/Setembro/2005:

“ DENTADURAS DUPLAS ”
- a Onestaldo de Pennafort -

“ Dentaduras duplas !
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída.
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica ?...)

Resovin ! Hecolite !
Nomes de países ?
Fantasmas femininos ?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
os delirantes lábios
apenas entreabertos
num sorriso técnico
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
afinal sossegada...
A serra mecânica
não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poético-
sofístico-dramáticas
de que rezam filmes
e velhos autores.

Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
em que tantas vezes
me eu perdi.

Largas dentaduras,
vosso riso largo
me consolará
não sei quantas fomes
ferozes, secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
jamais compensadas.
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
e por que não de âmbar ?
de âmbar ! de âmbar !
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida ! ”

( Carlos Drummond de Andrade - 'Biografia' - 1902/1987 )

05/Setembro/2005:

“ SERENO EM TEMPO FUTURO ”

“ A floresta água desenha planícies,
e redesenha horizontes
para sonhos tranqüilos
em deslumbramento-vida.
O sereno vive em tempo futuro
de enternecimento-ouro.
Ondas puras, oceano verde,
líquidas montanhas, céus,
sólidas linhas, matizes...
A claridade é muita:
o amor é eternidade,
amor puro, amor-sonho:
puro amor! ”

( Wanderlino Arruda - 'Biografia' - 1934/**** )

06/Setembro/2005:

“ HINO NACIONAL BRASILEIRO ”

Parte I

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com o braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso.
E o teu futuro espelha essa grandeza

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Parte II

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos lindos campos têm mais flores;
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida no teu seio mais amores.

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil! ”

letra: ( Joaquim Osório Duque Estrada - 'Biografia' - 1870/1927 )
música: ( Francisco Manuel da Silva -
'Biografia' - 1795/1865 )

08/Setembro/2005:

“ BRAÇOS DE ANJO ”

“ Misturo cores, sons e suavidade
A imaginar tão bela criatura
Que neste tempo rumo à eternidade
Vem proteger-me com fiel brandura.

Em tuas vestes feitas só de luz
Quisera ver-te, ó meu anjo lindo,
A mão segura que a mim conduz
E tua imagem para mim sorrindo.

Quando a missão já estiver cumprida
E os meus dias chegarem ao fim
Verei teu rosto angelical sem véu.

Fechando os olhos a esta humana vida.
Sorrindo, então, eu dormirei e assim
Nos braços teus eu voltarei ao Céu. ”

( Irmã Zuleides Andrade - 'Biografia' - 1950/**** )

09/Setembro/2005:

“ AS ESCOLHAS DA NOSSA VIDA ”

“ A vida real não é feita de conquistas efêmeras, mas de relações que estarão lá para sempre.
Marido, amigos, família, são eles que vão ficar do seu lado quando a empresa onde você trabalha não fizer mais parte do seu dia-a-dia.

Eu, como quase todas as mulheres da minha geração, passei por uma fase de dedicação total à carreira. Seguimos à risca os conselhos de nossa mãe: - 'Seja independente, não dependa de marido!'.

Mas, para conquistar nosso espaço relegamos o emocional a segundo plano. Todas queríamos vencer como os homens, ter poder como os homens. Não me arrependo, sinto orgulho do que construí. Porém, se tivesse que dar um conselho a você, diria 'Vá com calma! '. Hoje a realidade é outra.

Não precisamos deixar nosso universo para adotar o deles. Dá para incorporar o que há de melhor nos dois. E, principalmente, ouvir nossa voz interior, que é a melhor guia. Foi o que fiz quando, depois de 18 anos na Rede Globo, mudei para o SBT.

Até então, não consegui ir a um único aniversário de amigos, nem jantar com a família. Não via meu marido, Walter, a semana inteira ! Chegava em casa às 2 da manhã; ele acordava às 7. Para que a gente se comunicasse, até comprei um quadro branco e instalei no quarto. Aí, anotava: 'Amor, não esquece de fazer tal coisa. beijo, saudades'. O Walter lia, apagava e escrevia a resposta. Na sexta, ele me esperava e íamos deitar às 4 da madrugada. Conclusão: o sábado começava às 2 da tarde e, evidentemente, acabava num piscar de olhos. Isso quando eu não tinha plantão e passava o dia no Rio de Janeiro. Durante dois anos, tentei negociar um horário melhor. Até que cheguei ao limite do meu coração e repensei minha carreira.

Você deve estar se perguntando : 'Como ter coragem para largar um emprego em troca da felicidade? Bem, é preciso confiar na tal voz interior. Nesse aspecto, tenho segurança, aprendi a acreditar na minha capacidade de trabalho. Mas não pense que não fiquei tensa! Chorei muito, tive noites de insônia, pois gostava do que fazia.

Precisei da força do meu marido, que deixou claro: me apoiaria em qualquer escolha. Acho que, sem o Walter, não teria conseguido ir em frente. Quando penso que só nos conhecemos há 3 anos... queria ter passado A VIDA ao lado dele.

Nossa história já começou especial: em abril de 2002, entrevistei-o para o Jornal da Globo e, depois da gravação, conversamos sobre trabalho, viagens. Contei que na semana seguinte ia para a França, trocamos cartões e só. Quando já estava em Paris, eis que o telefone do hotel toca. Perguntei: 'Você veio para um congresso? 'A resposta: 'Não, vim te convidar para jantar'. Casamos quatro meses depois. Sei que uma relação assim não brota em cada esquina.

Também, hoje há um desencontro de papéis. Batalhamos para ter o que era de domínio masculino - e eles ficaram perdidos. Acredito que num relacionamento bem-sucedido há o meio-termo. Mas, para isso acontecer, a mulher deve deixar o homem participar do seu universo. E GOSTAR disso.

Meus próximos planos? Me dedicar ao novo emprego sem abrir mão da parte pessoal. Ainda gostaria de ser mãe, sim, mas decidimos esperar um pouco. Já passei por quatro longos tratamentos para engravidar. Em um deles, perdi o bebê na oitava semana de gestação. Os médicos disseram que o meu horário de trabalho não era um dos grandes obstáculos. Claro que, se acontecer, esse filho será muito bem-vindo.

Mas o importante é que estou tão feliz!
Tomara que você também consiga achar o seu ponto de equilíbrio e, assim como eu, não tenha medo de lutar por seus sonhos. ”

( Ana Paula Padrão - 'Biografia' - 1965/**** )

12/Setembro/2005:

“ PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES ”

“Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais braços dados ou não.
Nas escolas nas ruas, campos, construções,
Caminhando e cantando e seguindo a canção:

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Pelos campos há fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão...

Há soldados armados, amados ou não,
Quase todos perdidos de armas na mão.
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição,
De morrer pela pátria e viver sem razão...

Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Somos todos soldados, armados ou não.
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais braços dados ou não...

Os amores na mente, as flores no chão,
A certeza na frente, a história na mão.
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Aprendendo e ensinando uma nova lição:

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. ”

( Geraldo Vandré - 'Biografia' - 1935/**** )

13/Setembro/2005:

“ A DIVINA COMÉDIA ”
- O Inferno, Canto 3 -

( Chegam os Poetas à porta do Inferno, na qual estão escritas terríveis palavras. Entram e no vestíbulo encontram as almas dos ignavos, que não foram fiéis a Deus, nem rebeldes. Seguindo o caminho, chegam ao Aqueronte, onde está o barqueiro infernal, Caron, que passa as almas dos danados à outra margem, para o suplício. Treme a terra, lampeja uma luz e Dante cai sem sentidos.)

“ Por mim se vai das dores à morada,
Por mim se vai ao padecer eterno,
Por mim se vai à gente condenada.

“Moveu Justiça o Autor meu sempiterno,
Formado fui por divinal possança,
Sabedoria suma e amor supremo.

No existir, ser nenhum a mim se avança,
Não sendo eterno, e eu eternal perduro:
Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!”

Estas palavras, em letreiro escuro,
Eu vi, por cima de uma porta escrito.
“Seu sentido” — disse eu — “Mestre me é duro”

Tornou Virgílio, no lugar perito:
— “Aqui deixar convém toda suspeita;
Todo ignóbil sentir seja proscrito.

“Eis a estância, que eu disse, às dores feita,
Onde hás de ver atormentada gente,
Que da razão à perda está sujeita”.

Pela mão me travando diligente,
Com ledo gesto e coração me erguia,
E aos mistérios guiou-me incontinente.

Por esse ar sem estrelas irrompia
Soar de pranto, de ais, de altos gemidos:
Também meu pranto, de os ouvir, corria.

Línguas várias, discursos insofridos,
Lamentos, vozes roucas, de ira os brados,
Rumor de mãos, de punhos estorcidos,

Nesses ares, pra sempre enevoados,
Retumbavam girando e semilhando
Areais por tufão atormentados.

A mente aquele horror me perturbando,
Disse a Virgílio: — “Ó Mestre, que ouço agora?
“Quem são esses, que a dor está prostrando?” —

“Deste mísero modo” — tornou — “chora
Quem viveu sem jamais ter merecido
Nem louvor, nem censura infamadora”.

“De anjos mesquinhos coro é-lhes unido,
Que rebeldes a Deus não se mostraram,
Nem fiéis, por si sós havendo sido”.

“Desdouro aos céus, os céus os desterraram;
Nem o profundo inferno os recebera,
De os ter consigo os maus se gloriaram”.

— “Que dor tão viva deles se apodera,
Que aos carpidos motivo dá tão forte?” —
“Serei breve em dizer-to” — me assevera. —

“Não lhes é dado nunca esperar morte;
É tão vil seu viver nessa desgraça,
Que invejam de outros toda e qualquer sorte.

“No mundo o nome seu não deixou traça;
A Clemência, a Justiça os desdenharam.
Mais deles não falemos: olha e passa”.

Bandeira então meus olhos divisaram,
Que, a tremular, tão rápida corria,
Que avessa a toda pausa a imaginaram.

E após, tão basta multidão seguia,
Que, destruído houvesse tanta gente
A morte, acreditado eu não teria.

Alguns já distinguira: eis, de repente,
Olhando, a sombra conheci daquele
Que a grã renúncia fez ignobilmente.

Soube logo, o que ao certo me revele,
Que era a seita das almas aviltadas,
Que os maus odeiam e que Deus repele.

Nunca tiveram vida as desgraçadas;
Sempre, nuas estando, as torturavam
De vespas e tavões as ferroadas.

Os rostos seus as lágrimas regavam,
Misturadas de sangue: aos pés caindo,
A imundos vermes o repasto davam.

De um largo rio à margem dirigindo
A vista, de almas divisei cardume.
— “Mestre, declara, aos rogos me anuindo,

“Que turba é essa” — eu disse — “e qual costume
Tanto a passar a torna pressurosa,
Se bem discirno ao duvidoso lume?” —

Tornou-me: — “Explicação minuciosa
Darei, quando tivermos atingido
Do Aqueronte a ribeira temerosa”.

Então, baixos os olhos e corrido
Fui, de importuno a culpa receando,
Té o rio, em silêncio recolhido.

Eis vejo a nós em barca se acercando,
De cãs coberto um velho — “Ó condenados,
Ai de vós! — alta grita levantando.

“O céu nunca vereis, desesperados:
Por mim à treva eterna, na outra riva,
Sereis ao fogo, ao gelo transportados.

“E tu que estás aqui, ó alma viva,
De entre estes que são mortos, já te ausenta!”
Como não lhe obedeço à voz esquiva,

“Por outra via irás” — ele acrescenta —
“Ao porto, onde acharás fácil transporte;
Lá pássaras sem barca menos lenta”. —

“Não te agastes, Caronte! Desta sorte
Se quer lá onde” — disse-lhe o meu Guia —
“Quem pode ordena. E nada mais te importe”.

Sereno, ouvido, o gesto se fazia
Da lívida lagoa ao nauta idoso,
Quem em círculos de fogo olhos volvia.

As desnudadas almas doloroso
O gesto descorou; dentes rangeram
Logo em lhe ouvindo o vozear raivoso.

Blasfemaram de Deus e maldisseram
A espécie humana, a pátria, o tempo, a origem
Da origem sua, os pais de quem nasceram.

Todas no pranto acerbo, em que se afligem,
Se acolhem juntas ao lugar tremendo,
Dos maus destinos, que se não corrigem.

Caronte, os ígneos olhos revolvendo,
Lhes acenava e a todos recebia:
Remo em punho, as tardias vai batendo.

Como no outono a rama principia
As flores a perder té ser despida,
Dando à terra o que à terra pertencia,

Assim de Adam a prole pervertida,
Da praia um após outro se enviavam,
Qual ave dos reclamos atraída.

Sobre as túrbidas águas navegavam;
E pojado não tinham no outro lado,
Mais turbas já no oposto se apinhavam.

“Aqui meu filho” — disse o Mestre amado —
“concorrem quantos há colhido a morte,
De toda a terra, tendo a Deus irado.

“O rio prontos buscam desta sorte,
De Deus tanto a justiça os punge e excita,
Tornando-se o temor anelo forte!

“Alma inocente aqui jamais transita,
E, se Caronte contra ti se assanha,
Patente a causa está, que tanto o irrita”.

Assim falava; a lúrida campanha
Tremeu e foi tão forte o movimento,
Que do medo o suor ainda me banha.

Da terra lacrimosa rompeu vento,
Que um clarão respirou avermelhado;
Tolhido então de todo o sentimento,

Caí, qual homem que é do sono entrado. ”

( Dante Alighieri - 'Biografia' - 1265/1321 )

14/Setembro/2005:

“ SE EU MORRESSE AMANHÃ ”

“ Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã ! ”

( Álvares de Azevedo - 'Biografia' - 1831/1852 )

15/Setembro/2005:

“ AMAR DENTRO DO PEITO UMA DONZELA ”

“ Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo. ”

( Bocage - 'Biografia' - 1765/1805 )

16/Setembro/2005:

“ A ONDE VAI A LÁGRIMA ”

“ Na terra se chora tanto
Que, se Deus guardasse o pranto
Que o mundo inteiro derrama.
Dos astros lá do infinito
O choro do pobre aflito
Podia apagar a chama.

Mas todo o pranto que desce
Por nossa face, parece
Que Deus o transforma em prece ...
E a prece, cheiroso incenso,
Nas asas do vento imenso,
Se perde no azul dos céus
Buscando o seio de Deus. ”

( Auta de Souza - 'Biografia' - 1876/1901 )

19/Setembro/2005:

“ CRISTO DE BRONZE ”

Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata,
Cristos ideais, serenos, luminosos,
Ensangüentados Cristos dolorosos
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata.

Ó Cristos de altivez intemerata,
Ó Cristos de metais estrepitosos
Que gritam como os tigres venenosos
Do desejo carnal que enerva e mata.

Cristos de pedra, de madeira e barro...
Ó Cristo humano, estético, bizarro,
Amortalhado nas fatais injurias...

Na rija cruz aspérrima pregado
Canta o Cristo de bronze do Pecado,
Ri o Cristo de bronze das luxúrias!... ”

( Cruz e Sousa - 'Biografia' - 1862/1898 )

20/Setembro/2005:

“ O ZANGÃO ”

Meu sorriso denuncia minh´alma
Explorada como um tesouro.
Meu sorriso reluz como ouro.
É pela chegada do besouro
Que voa e pousa em minha flor.
Flor de néctar doce,
Cor formosa,
Atraído pelo odor forte de sua seiva.
Seiva nutirtiva e deliciosa.
Sugada pela abelha?
Ou zangão...
Sim, com seu ferrão apontado
Para o meu alvo
Que quando emperrado,
Penetra e inebria,
Sacia e embriaga,
Como veneno da paixão. ”

( Cris Passinato - 'Biografia' - 1973/**** )

21/Setembro/2005:

“ ÁRVORES DO ALENTEJO ”

Horas mortas... curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água! ”

( Florbela Espanca - 'Biografia' - 1894/1930 )

22/Setembro/2005:

“ SER JOVEM... ”

Ser jovem. Quem não gosta de permanecer jovem?
Ser jovem é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida, perdoando até as pedradas que a vida nos joga em rosto. Ser jovem é Ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos. É vibrar com os momentos bons e passar por cima do que nos machuca, com um sorriso fácil apagando os percalços.

Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos, não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público, cantarolar uma canção em pleno ônibus. E apreciar uma piada gostosa.
Ser jovem é escrever diário, às vezes. Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, à namorada, com assinatura própria.
Ser jovem é compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura, de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.

Ser jovem é beber um lindo pôr-do-sol, ar livre e noites estreladas. Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis, ficar ao lado das crianças, gostar de leitura, Ter ódio de guerra e de ser manipulado.
Ser jovem é Ter olhos molhados de esperança e adormecer com problemas, na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte.
Ser jovem é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros. Ter alegria ao dramático, ao solene. E duvidar das palavras.

Ser jovem é vibrar um gol do time, jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura e simpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.
Ser jovem é planejar praias no fim do ano, sonhar com um giro pela Europa e uma esticada pela Disneilândia... algum dia.
Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos, não perder o hábito de encabular, tremer diante de um exame e detestar gente gritona e resmunguenta.

Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama, caminhar na chuva, iniciar cursos de inglês e violão, sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam da gente. Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.
Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando o encontro é feliz, quando a companhia é agradável e a ventura toma conta do nosso ser.

Ser jovem é caminhar firme no chão, à luz dalguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro à morte, sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, servindo, sem nunca fazer distinção de pessoas.

Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos, saudando cada novo dia, como presente de Deus. Ser jovem é realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer...
Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade, em vida. É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte, de vez em quando. É não saber nada e poder tudo.

Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança. É meter o dedo no bolo e lamber o glacê. É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É crer no que não vale a pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha, trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha, com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de SER. ”

( Artur da Távola - 'Paulo Alberto Monteiro de Barros' - 1936/**** )

23/Setembro/2005:

“ CANÇÃO DA PRIMAVERA”
- para Érico Veríssimo -

Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.

Cata-vento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do cata-vento
Dancemos todos em bando.

Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo...

Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido! ”

( Mário Quintana - 'Mário de Miranda Quintana' - 1906/1994 )

26/Setembro/2005:

“ HOMEM QUE É HOMEM ”

Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer outra coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem — de agora em diante chamado HQEH — não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.

HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passa todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jill Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.

HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.

E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógrado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a pensar no que faria com a Feiticeira se a pegasse. Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 — uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas — você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise do Manix em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas (...) ”

( Luis Fernando Veríssimo - 'Biografia' - 1936/**** )

27/Setembro/2005:

“ O PODER DO EXEMPLO ”

“O exemplo é uma força que repercute
de maneira imediata,
longe ou perto de nós...

Não podemos nos responsabilizar
pelo que os outros fazem das suas vidas;
cada qual é livre para fazer o que quiser de si mesmo.

Mas não podemos negar
que nossas atitudes inspiram outras atitudes,
tanto no bem quanto no mal.”

( Chico Xavier - 'Biografia' - 1910/2002 )

28/Setembro/2005:

“ MÃE PRETA, MÃE SEMPRE... ”

“Tu Mãe divina,
que rompestes com os elos,
que te atrelavam,
ao que beirava a insanidade.

Que me ensinastes,
que o encarapinhar dos meus cabelos,
Longe de ser menor arte,
carregava um acervo vertente,
da história de uma raça.

E que consolastes minhas irmãs,
a dizer-lhes que os corridos cabelos lindos,
de suas amigas de escola,
não eram diferentes dos fios infindos,
com os quais,
tu lhes fazia tranças intercaladas.

Tu que vivestes num País deveras confuso.
De negros, brancos, mulatos,
morenos, caboclos, índios, "pardos" e cafuzos.

Conseguistes mostrar pra mim,
que através da história,
já se fazia presente o preconceito,
sórdido, nojento, criminoso, escondido,
que ainda não se fez desfeito.

Que ao invés de pingentes,
de todas as matizes,
desde os argentados aos aurifulgentes,
carregastes na cabeça latas d'água,
provando que longe de ser castigo ou sofrimento,
aquela lida era o descarrego de tuas mágoas.

Tu que ontem e hoje,
habitavas e habitas as encostas dos morros,
mas que com dentes alvos,
às senhoras brancas,
inda prestas socorro,
quando aleitas em teus seios impávidos
os seus filhos semi-pálidos.
(Os teus eternos "filhos brancos")

Tu que com teus braços aliformes,
alçastes vôos altívolos.
Tu que vencestes,
os interesses escusos e frígidos,
dos que mediam a grandeza,
pela cor da tez.

Tu Mãe maravilhosa,
que da labuta se fez.
Lacerada, cansada,
quando é noite à casa torna.
E inda consegues sorridente,
aquecer em teu colo macio e quente,
a minha cabeça carente.

Tu sim és heroína.
Dona dos sorrisos belos.
Dos gestos singelos.
Almanaras dos meus sonhados castelos.

Mãe Preta,
por que és amor.
Mãe Sempre,
pois que não negas calor.
Mãe astro,
esperado no céu.
Mãe que cura,
pois que afugentas minha dor.

Mãe sábia,
pois que me ensinastes,
que a honra de um homem,
independe da cor.
Tu que inda hoje conserva,
tudo o que de bom,
na natureza se encerra.
Te fizestes sacra.
Tu te fizestes Santa na Terra ! ”

( Josemir Tadeu de Souza - 'Biografia' - ****/**** )

29/Setembro/2005:

“ CÍRCULO VICIOSO ”

“ Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— "Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

— "Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

— "Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume:
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

— "Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?" ”

( Machado de Assis - 'Biografia' - 1839/1908 )

30/Setembro/2005:

“ PROFISSIONAL-PRIMAVERA ”

“SECRETÁRIA, Profissional-Primavera!
Se fossemos compará-la com a Natureza e suas Estações,
esta profissional seria a Primavera.

Senão, analisemos:
Qual outro profissional simboliza sensibilidade,
graciosidade, renovação, transformação?!...
Somado a isso, características a ela associadas:
lealdade, pontualidade, dedicação, perspicácia,...
demonstram toda a sua importância
no cotidiano de uma empresa e na gestão de um dirigente.

A nossa "Profissional Primavera",
a SECRETÁRIA,
invariavelmente é o ponto de equilíbrio,...

Nos momentos de INVERNO, quando a
empresa passa por dificuldades e os ânimos se acirram;
Nas fases de OUTONO, quando a
necessidade de renovação se faz necessária
e a instabilidade mexe com as pessoas,
E nas loucuras de VERÃO, quando os
bons resultados iludem os menos sensatos
e põem em risco o futuro da empresa.

Na PRIMAVERA, aí,
se houvesse justiça (e há), ela mereceria,
senão um descanso, ao menos uma homenagem...
E não é que no dia 30 de setembro (hoje),
em plena Primavera, comemora-se o seu dia!

Festejemos, portanto, a estação das flores e o
dia de quem, pela sua atuação, presença e estilo,
faz com que nos lembremos sempre do Belo:
da natureza, das flores, das cores, de Deus !!! ”

( Enio Pypcak - 'Biografia' - ****/**** )

 

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