02/Maio/2005:
PIPOCAS DA VIDA
Milho de pipoca que não
passa pelo fogo continua a ser
milho para sempre. Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando
passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo,
fica do mesmo jeito a vida
inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza
assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu
jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação
que
nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder
um amor, perder um
filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico,
medo, ansiedade,
depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do
remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a
possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada
dentro da panela,
lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora
chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada
em si mesma, ela não pode imaginar um destino
diferente para si. Não pode imaginar a transformação
que está sendo preparada para ela. A pipoca não
imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso
prévio, pelo poder do fogo a grande transformação
acontece: BUM!
E ela aparece como uma outra coisa
completamente
diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca
que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas
que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa
do que o jeito delas serem.
A presunção e o
medo são a dura casca do milho
que não estoura. No entanto, o destino delas é triste,
já que ficarão duras a vida inteira. Não vão
se
transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria
para ninguém.
( Rubem Alves - 'Biografia'
- 1933/**** )
03/Maio/2005:
QUANDO A FOME INVADE
UMA NAÇÃO
O país vive clima
de agonia
Toda hora aparece na tevê
Situações que eu não desejo vê
Contrastando à falsa euforia
E são coisas que afetam o dia a dia
Um progresso que equivale ao nada
Uma sina que há muito está marcada
Nos levando à inteira escuridão
Quando a fome invade uma nação
A violência está consolidada.
Nos armazéns alimentos
que perecem
Esperando as coisas que não vêm
Sofrimento assim não nos convém
Criaturas da nação muito padecem
Desse modo, todas elas não merecem
Conviver com a barriga maltratada
Sem comer, sem beber, algo de nada
Sem ganhar e sem ter nenhum tostão
Quando a fome invade uma nação
A violência está consolidada.
Mas, pior é a fome de vergonha
Está longe de ser erradicada
A justiça raramente é praticada
A população de hoje sequer sonha
E nos rostos uma expressão medonha
Da certeza de luta fracassada
Uma gama de gente massacrada
Enfrentando a tal destruição
Quando a fome invade uma nação
A violência está consolidada.
A revolta se alastra pelo mundo
Sem comida os ânimos se exaltam
Não só são alimentos que nos faltam
O vazio é ainda mais profundo
Ser faminto é viver em submundo
É não ter nem sequer uma morada
Ter saúde e escola de fachada
Que os homens projetam num clarão
Quando a fome invade uma nação
A violência está consolidada.
Nas cidades é faminta a
insegurança
O poder enche a pança dos maiores
Enquanto isso sobrevivem os menores
Aguardando uma falsa esperança
Nessa linha nossa queda é quem avança
Nossa Pátria não é tão bem amada
Vejo a hora ocorrer total parada
Com o país se arrastando pelo chão
Quando a fome invade uma nação
A violência está consolidada.
É uma pena de morte ideológica
Bem pior que a morte original
Comer papel de imprensa, de jornal
Atingindo a parte fisiológica
Contrariando a ordem psicológica
E deixando a mente habituada
A sofrer privação incomparada
A viver toda hora em precisão
Quando a fome invade uma nação
A violência está consolidada.
E pra matar essa fome da comida
Da dormida, da casa, da escola
Da vergonha, a vertente que assola
Não permite uma vida bem vivida
População será bem decidida
Consciência terá que ser moldada
Não tratando igualmente uma manada
O que usam chamar de O POVÃO
Pra acabar toda a fome da nação
E a violência ser de vez eliminada.
( Gil de Mozart - 'Biografia'
- 1978/**** )
04/Maio/2005:
VOLÚPIA DO MEU
AMOR
Como posso assossegar
Se meu coração bate,
Meu sangue queima,
Meu pulso
Pulsa o calor,
O furor das ansiedades.
Suo e me arrepio.
Expondo e pondo
Tudo a flor-da-pele.
Minha boca sora
E ranjo os dentes
Apertando-os contra
Os lábios carnudos e rubros;
Agonia que me contagia
E disfarço por perceber você,
Sorridente sem jeito.
Para não transparecer
Essa folia da magia
Baixo olhar e de rabo de olho
Mando-lhe um piscar.
Que ao alvorecer
Vai me enlouquecer
E a seiva escorrer
Se no escurecer,
Desse dia,
Esse fulgor
Você não vier acender .
( Cris Passinato - 'Biografia'
- 1973/**** )
05/Maio/2005:
CANÇÃO
DO EXPEDICIONÁRIO
Você sabe de onde
eu venho ?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais.
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão.
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!
Você sabe de onde eu venho
?
É de uma Pátria que eu tenho
No bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás
meu terreiro,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.
Venho de além desse monte
Que ainda azula no horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz !
( Guilherme de Almeida - 'Biografia'
- 1890/1969 )
06/Maio/2005:
O ESPLENDOR
E o esplendor dos mapas,
caminho abstrato para a imaginação concreta,
Letras e riscos irregulares abrindo para a maravilha.
O que de sonho jaz nas encadernações vetustas,
Nas assinaturas complicadas (ou tão simples e esguias) dos velhos
livros.
(Tinta remota e desbotada aqui
presente para além da morte,
O que de negado à nossa vida quotidiana vem nas ilustrações,
O que certas gravuras de anúncios sem querer anunciam.
Tudo quanto sugere, ou exprime
o que não exprime,
Tudo o que diz o que não diz,
E a alma sonha, diferente e distraída.
Ó enigma visível
do tempo, o nada vivo em que estamos !
( Fernando Pessoa/Álvaro
de Campos - 'Biografia'
- 1888/1935 )
08/Maio/2005:
MATER
Como a crisálida
emergindo do ovo
Para que o campo florido a concentre,
Assim, oh! Mãe, sujo de sangue, um novo
Ser, entre dores, te emergiu do ventre!
E puseste-lhe, haurindo amplo
deleite,
No lábio róseo a grande teta farta
Fecunda fonte desse mesmo leite
Que amamentou os éfebos de Sparta.
Com que avidez ele essa fonte
suga!
Ninguém mais com a Beleza está de acordo,
Do que essa pequenina sanguessuga,
Bebendo a vida no teu seio gordo!
Pois, quanto a mim, sem pretensões,
comparo,
Essas humanas cousas pequeninas
A um biscuít de quilate muito raro
Exposto aí, à amostra, nas vitrinas.
Mas o ramo fragílimo e
venusto
Que hoje nas débeis gêmulas se esboça,
Há de crescer, há de tornar-se arbusto
E álamo altivo de ramagem grossa.
Clara, a atmosfera se encherá
de aromas,
O Sol virá das épocas sadias...
E o antigo leão, que te esgotou as pomas,
Há de beijar-te as mãos todos os dias!
Quando chegar depois tua velhice
Batida pelos bárbaros invernos!
Relembrarás chorando o que eu te disse,
A sombra dos sicômoros eternos !
( Augusto dos Anjos - 'Biografia'
- 1884/1914 )
09/Maio/2005:
DEUS SABE
O mundo talvez ignore as
dificuldades que enfrentas.
Mesmo assim, não te revoltes contra o mundo.
Deus sabe das lutas que travas na Terra.
É provável que os
familiares te cerquem de incompreensão.
Mesmo assim, não te revoltes com os parentes difíceis.
Deus sabe das provas que enfrentas no lar.
É possível que a
enfermidade te visite o corpo.
Mesmo assim, não te revoltes contra a doença.
Deus sabe das dores que carregas no veículo físico.
Diante das lutas, incompreensões
e dores
que a vida na Terra possa te apresentar,
não te revoltes, nem desanimes.
Confia em Deus e age no Bem,
porque Deus sabe o que se passa contigo
e a ação no bem será sempre a garantia
da conquista da paz imperecível.
( Scheilla / Clayton B. Levy
- 'A
Mensagem do Dia' )
10/Maio/2005:
O AZULÃO E OS
TICO-TICOS
Do começo ao fim
do dia,
um belo azulão cantava,
e o pomar que atento ouvia
os seus trilos de harmonia
cada vez mais se enflorava.
Se um tico-tico e outros bobos
vaiavam sua canção,
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse azulão.
Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo
do azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de tico-ticos
numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: " Azulão,
olha, diz-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
desses garotos joviais,
tu continuas gorjeando,
e cada vez cantas mais ?!"
Numas volatas sonoras,
o azulão lhe respondeu:
"meu amigo, eu prezo muito
esta garganta sublime,
este dom que Deus me deu!
Quando há pouco, eu descantava,
pensando não ser ouvido
nestes matos, por ninguém,
um sabiá que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: "meu colega,
bravo!....Bravo!...Muito bem!"
Queira agora me dizer:
- quem foi um dia aplaudido
por um dos mestres do canto,
um dos cantores mais ricos
que caso pode fazer
das vaias dos tico-ticos ?!
( Catulo da Paixão Cearense
- 'Biografia'
- 1863/1946 )
11/Maio/2005:
CONCORDATA EXISTENCIAL
E lá estava eu,
buscando, amando, sonhando....
E lá estava eu,
acreditando ser o bastante,
ser amante,
a amiga..
a prioridade.
E lá estava eu,
acreditando em culpas,
acreditando que o amor vence tudo,
que ele brilha como o sol,
lindo, inatingível..
E lá estava eu,
colecionando lucros,
controlando desamor,
encobrindo intenções outras..
E lá estava eu,
tentando reerguer o relacionamento,
acreditando que o sentir fosse redimensioná-lo...
Estava então,
Investindo de forma errada,
Em um mercado impróprio,
Numa administração falha..
Estava então,
no exercício pleno de minha profissão,
de fato e de direito,
humana, mulher, fêmea e profissional.
Convenci-me que no amor não há diplomas,
grau de instrução...
Apenas existe,
causa dor e emoção..
Estava então,
Cega de amor,
Cega de querer,
Cega de mim,
deixando tudo caminhar para entropia...
Entropia de minha auto-estima,
do que eu merecia...
Querendo receber como eu dava,
Querendo me contentar com o que eu tinha,
mascarando, tentando...
querendo ser plenamente amada..
Estava então,
sonhando,
dando-me,
amando,
amante ,
amiga,
projetando,
de forma errada....
Enganada com o amor.
Estava eu então,
No pensamento perdido, buscando os porquês,
Parei.,. Chorei, fiz-me triste,
Em luto interior entrei..
Faixa preta no coração,
curativo nesse meu amigo fiz..
Estanquei o sangue,
Fiz analgesia ...
Não deixei de viver um só momento do momento,
Fui humana, cheia de sentimentos,
sofri sim,
doeu sim,
Senti falta das mãos percorrendo meu corpo,
prazer,
palavras,
sussurros, voz,
saudades.
atravessei cada etapa de tudo...
Parei uma outra vez!
Entrei em concordata existencial,
antes que falisse a mim mesma..
Comecei então,
A fazer um balanço de tudo,
Perdas e lucros acumulados,
Vi-me de repente,
ativos e passivos do amar.
Como um grande empreendimento...
Tudo voltará ao normal,
Continuarei investindo,
Estudarei com mais precaução o mercado,
E continuarei inteira,
voltando ao todo existencial..
Somente parei...
Despertei!
Para ser melhor no momento seguinte,
Reconhecendo os meus defeitos,
os meus medos,
O mau emprego de recursos,
para mim e para os outros..
Concordata não é
falência, pensei!
É a busca,
A avaliação,
Os ajustes!
Então a determinei!
( Jane Lagares - 'Biografia'
- 1959/**** )
12/Maio/2005:
CANTO DE REGRESSO À
PÁTRIA
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu
morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
( Oswald de Andrade - 'Biografia'
- 1890/1954 )
13/Maio/2005:
O NAVIO NEGREIRO
- Tragédia no Mar -
1a.
'STAMOS em pleno mar... Doudo
no espaço
Brinca o luar doirada borboleta
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias
Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar... Abrindo
as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem?... Onde vai?... Das
naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste Saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!...
Embaixo o mar... em cima o firmamento...
E no mar e no céu a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me
a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! Como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! Ó rudes
marinheiros
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! Esperai! deixai que eu
beba
Esta selvagem, livre poesia...
Orquestra é o mar que ruge pela proa,
E o vento que nas cordas assobia...
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia
do oceano,
Tu, que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviatã do espaço!
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas...
2a.
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?...
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a noite é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como um golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
Às vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de languor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor.
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente
Terra de amor e traição
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos do Tasso
Junto às lavas do Vulcão!
O Inglês marinheiro
frio,
Que ao nascer no mar se achou
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando orgulhoso histórias
De Nelson e de Aboukir.
O Francês predestinado
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir...
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga iônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu...
... Nautas de todas as plagas!
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu...
3a.
Desce do espaço imenso,
ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais... não pode o olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador.
Mas que vejo eu ali... que quadro de amarguras!
Que cena funeral!... Que tétricas figuras!
Que cena infame e vil!... Meu Deus! meu Deus! Que horror!
4a.
Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às
tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica,
estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só
cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda
a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica,
estridente...
E da roda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
5a.
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
Quem são estes desgraçados,
Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz.
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também,
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma lágrimas e fel.
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus...
...Adeus! ó choça do monte!...
...Adeus! palmeiras da fonte!...
...Adeus! amores... adeus!...
Depois o areal extenso...
Depois o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer...
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormindo à toa
Sob as tendas d'amplidão...
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cum'lo de maldade
Nem são livres p'ra... morrer...
Prende-os a mesma corrente
Férrea, lúgubre serpente
Nas rôscas da escravidão.
E assim roubados à morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoite... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
6a.
E existe um povo que a bandeira
empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha
terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares.
( Castro Alves - 'Biografia'
- 1847/1871 )
16/Maio/2005:
A MÁQUINA DO
MUNDO
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,
assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,
a outro alguém, noturno
e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
"O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,
olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,
essa total explicação
da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo
se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste... vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.
As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber
no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,
e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:
e a memória dos deuses,
e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,
tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.
Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,
a esperança mais mínima
esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;
como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face
que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,
passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes
em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já
pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
( Carlos Drummond de Andrade
- 'Biografia'
- 1902/1987 )
17/Maio/2005:
INDISCIPLINA
O bêbado deixa para
trás as casas estupefactas.
Nem todos se aventuram a passear bêbados
à luz do sol. Atravessa tranquilo a rua,
e poderia entrar pelas paredes dentro, pois as paredes estão
ali.
Só os cães deambulam assim, mas um cão pára
sempre que sente uma cadela e cheira-a cuidadosamente.
O bêbado não vê ninguém, nem mesmo as mulheres.
Na rua, as pessoas que se perturbam
ao vê-lo, não se riem
e gostariam que não estivesse ali o bêbado, mas os muitos
que tropeçam
ao segui-lo com os olhos voltam a olhar em frente
com uma praga. Passado que foi o bêbado,
toda a rua se move mais lentamente
à luz do sol. E se uma pessoa começa
a correr, é alguém que não o bêbado.
Os outros olham, sem distinguir, o céu e as casas
que nunca deixaram de estar ali, ainda que ninguém as veja.
O bêbado não vê
as casas nem o céu,
mas sabe que estão ali, pois num passo pouco firme percorre um
espaço
tão claro como as franjas do céu. As pessoas, embaraçadas,
deixam de compreender o que fazem ali as casas,
e as mulheres já não olham para os homens. Têm
todos, dir-se-ia, medo de que de repente a voz
rouca se ponha a cantar e os persiga pelo ar.
Cada casa tem uma porta, mas não
vale a pena entrar.
O bêbado não canta, mas mete por uma rua
onde o único obstáculo é o ar. Felizmente
não vai dar ao mar, pois o bêbado,
caminhando tranquilo, entraria também no mar
e, deixando de se ver, prosseguiria no fundo o mesmo caminho.
Cá fora, a luz seria sempre a mesma.
( Cesare Pavese - 'Biografia'
- 1908/1950 )
18/Maio/2005:
ACALMA-TE
Evita a cólera.
A irritação agrava a enfermidade, desequilibra a mente,
afeta o espírito negativamente.
Nos momentos de contrariedade, entrega-te à prece e faze o melhor
ao teu alcance.
Se não podes, por teus meios modificar a situação
difícil,
acalma-te e espera.
DEUS te vê e te conduzirá por mãos intangíveis,
à solução adequada.
( Scheilla / Clayton B. Levy
- 'A
Mensagem do Dia' )
19/Maio/2005:
HINO DO GUARUJÁ
Guarujá nossa gleba
querida,
jardim feito de encanto e de sol.
Pulsa em ti, a beleza da vida entre os vivos clarões do arrebol.
Tuas praias de linda brancura
São recantos de amor e de paz, onde o céu azulado procura,
Repousar em manhãs estivais.
Simbolizam teus fortes em ruínas
os civismos que à pátria tu ensinas,
Pois neles há troféus de glória, honrando a história
de Guarujá.
És para nós a Pérola
do Atlântico, espelho do Brasil, lindo e romântico.
Primor de artista, jóia fagueira, à Beira-Mar,
Não há turista que não queira te adorar.
( Letra: Aristeu Bulhões
/ Música de Olavo E. Pinheiro - 'Guarujá'
)
20/Maio/2005:
BRANCA NOITE DE LUAR
Mal o dia se esgueira e
foge entre as árvores do crepúsculo,
insinuam-se os seus finais entre as dúvidas do nascer da noite.
Pára o rio e sua viagem. Cessam as águas a sua voz.
Cantos de pássaros interrompem-se e tombam nos ouvidos da solidão.
Póstumos bois adormecem no relvado as suas sombras,
e um gesto final do ocaso conduz a ovelha derradeira.
Entre os rebanhos recolhidos recolheu-se a tarde
e, enquanto as distâncias se estiram brancamente,
lúcido vinho vai a terra embebedando:
o chão é claro sonho e firmamento.
Verte o céu a sua azul antiguidade
sobre as formas, as ausências e os corações dos
homens,
e a lua vai abrindo em leve solo nas alturas
imaginativas ruas de silêncio, de outrora,
de alva tristeza e amoroso pensamento.
( Abgar Renault - 'Biografia'
- 1901/1995 )
23/Maio/2005:
NOSSA BANDEIRA
Bandeira da minha terra,
bandeira das treze listas:
são treze lanças de guerra
cercando o chão dos Paulistas!
Prece alternada, responso
entre a cor branca e a cor preta:
velas de Martim Afonso,
sotaina do Padre Anchieta!
Bandeira de Bandeirantes,
branca e rota de tal sorte,
que entre os rasgões tremulantes
mostrou a sombra da morte.
Riscos negros sobre a prata:
são como o rastro sombrio
que na água deixava a chata
das Monções, subindo o rio.
Página branca pautada
Por Deus numa hora suprema,
para que, um dia, uma espada
sobre ela escrevesse um poema:
Poema do nosso orgulho
(eu vibro quando me lembro)
que vai de nove de julho
a vinte e oito de setembro!
Mapa de pátria guerreira
traçado pela Vitória:
cada lista é uma trincheira;
Cada trincheira é uma glória!
Tiras retas, firmes:
quando o inimigo surge à frente,
são barras de aço guardando
nossa terra e nossa gente.
São os dois rápidos
brilhos
do trem de ferro que passa:
faixa negra dos seus trilhos,
faixa branca da fumaça.
Fuligem das oficinas;
cal que as cidades empoa;
fumo negro das usinas
estirado na garoa!
Linhas que avançam; há
nelas,
correndo num mesmo fito,
o impulso das paralelas
que procuram o infinito.
Desfile de operários;
é o cafezal alinhado;
são filas de voluntários:
são sulcos do nosso arado!
Bandeira que é o nosso
espelho!
Bandeira que é a nossa pista!
Que traz no topo vermelho,
O coração do Paulista!
( Guilherme de Almeida - 'Biografia'
- 1890/1969 )
24/Maio/2005:
ORAÇÃO
AO CORAÇÃO DE JESUS MESTRE
Meu Senhor, ensinai-me
a ser doce e afável em todos os acontecimentos da vida:
nas contrariedade, no menosprezo dos outros, na insinceridade
daqueles em quem confiava,
na infidelidade daqueles nos quais acreditava.
Fazei-me esquecer de mim mesma
para pensar e fazer felizes os outros;
esconder minhas pequenas penas e angústias, para sofrê-las
em silêncio.
Ensinai-me a tirar proveito do
sofrimento que atravessa meu caminho.
Fazei que eu saiba usá-lo de tal modo que me torne afável
e não dura ou áspera;
que me torne paciente, generosa no perdoar, não mesquinha, arrogante,
intolerante.
Que ninguém seja menos
bom por minha culpa, ninguém menos puro,
menos sincero, menos gentil,
menos nobre por ter sido meu companheiro de viagem no caminho para a
vida eterna.
Enquanto procuro não perturbar
os outros, fazei que sussurre, vez por outra,
uma palavra de amor por vós.
Que minha vida transcorra no sobrenatural, plena de força para
o bem
e forte no desejo de santidade.
( Ir. Zuleides Andrade - 'Biografia'
- 1950/**** )
25/Maio/2005:
RITMO
Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco
Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes
No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa
até que enfim
se desenrola
a corda toda
e o mundo gira imóvel como um pião!
( Mario Quintana - 'Biografia'
- 1906/1994 )
26/Maio/2005:
SAUDADES DE JESUS
Estávamos na residência
do Chico. Seu estado de saúde não lhe permitia deslocar-se
até o Centro.
A multidão se comprimia lá na rua em frente.
Quando o portão se abriu, a fila de pessoas tinha alguns quarteirões.
Foram passando, uma a uma, em frente ao Chico.
Pessoas de todas as idades, de
todas as condições sociais e dos mais distantes lugares
do País.
Algumas diziam: - Eu só queria tocá-lo...
- Meu maior sonho era conhecê-lo...
- Só queria ouvir sua voz e apertar sua mão.
Uns queriam notícias de
familiares desencarnados, espantar uma idéia de suicídio.
Outros nada diziam, nada pediam, só conseguiam chorar. Com uma
simples palavra do Chico, seus semblantes se transfiguravam, saíam
sorridentes.
Ao ver as pessoas ansiosas para tocá-lo, a interminável
fila, a maneira como ele atendia a todos, fiquei pensando: 'Meu Deus,
a aura do Chico é tão boa... seu magnetismo é tão
grande, que parece que pulveriza nossas dores e ameniza nossas ansiedades'.
De repente, ele se volta para
mim e diz:
- Comove-me a bondade de nossa gente em vir visitar-me. Não tenho
mais nada para dar. Estou quase morto. Por que você acha que eles
vêm?
Perguntou-me e ficou esperando a resposta.
Aí, pensei: Meu Deus, frente a um homem desses, a gente não
pode mentir nem dizer qualquer coisa que possa vir ofender a sua humildade
(embora ele sempre diga que nunca se considerou humilde).
Comecei então a pensar
que quando Jesus esteve conosco, onde quer que aparecesse, a multidão
o cercava. Eram pessoas de todas as idades, de todas as classes sociais
e dos mais distantes lugares. Muitos iam esperá-lo nas estradas,
nas aldeias ou nas casas onde Ele se hospedava. Onde quer que aparecesse,
uma multidão o cercava. Tanto que Pedro lhe disse certa vez:
'Bem vês que a multidão te comprime'. Zaqueu chegou a subir
numa árvore somente para vê-lo.
Ver, tocar, ouvir era só o que queriam as pessoas.
Tudo isso passou pela minha cabeça
com a rapidez de um relâmpago. E como ele continuava olhando para
mim, esperando a resposta, animei-me a dizer:
- Chico, acho que eles estão com saudades de Jesus.
Palavras tiradas do fundo do coração, penso que elas não
ofenderam sua modéstia.
A multidão continuou desfilando. Todos lhe beijavam a mão
e ele beijava a mão de todos.
Lá pelas tantas da noite,
quando a fila havia diminuído sensivelmente, percebi que seus
lábios estavam sangrando. Ele havia beijado a mão de centena
de pessoas.
Fiquei com tanta pena daquele homem, nos seus oitenta e oito anos, mais
de setenta dedicados ao atendimento de pessoas, que me atrevi a lhe
perguntar:
- Por que você beija a mão deles?
A humildade de sua resposta continuará emocionando-me para sempre:
- Porque não posso me curvar para beijar-lhes os pés.
( Chico Xavier/Adelino da Silveira
- 'Biografia'
- 1910/2002 )
27/Maio/2005:
QUERES SABER QUEM SOU
?
Sou a luz cujos raios se
aclaram,
A pureza de tuas intenções e a nobreza de teus sentimentos.
Sou o bálsamo que cicatriza todas as feridas.
Sou a alegria que te faz conhecer
Os encantos do teu mundo interior
E te habilita para a conquista da felicidade.
Enfim, se quiseres mesmo saber
quem sou,
Pergunta ao riacho
Que murmura e ao pássaro que canta,
À flor que desabrocha e
Á estrela que cintila no firmamento.
Eu sou JESUS !!!
( Alceu Malossi -
'Biografia' -
1935/**** )
30/Maio/2005:
QUERES SABER QUEM SOU
?
Filho meu que estas na
terra desorientado,
Solitário, triste e angustiado ... eu conheço
Perfeitamente teu nome e o pronuncio
Abençoando-te, porque te amo.
Saibas ... que não estás
sozinho, porque
Eu habito em ti; juntos construiremos este
Reino do qual serão todos meus herdeiros.
Desejo que sempre faças
minha vontade,
Porque minha vontade é que sejas feliz.
Deves saber que contas sempre comigo
Porque nunca te abandonarei, apenas te
Peço que compartilhe com teu próximo
Que são teus irmãos.
Te amarei sempre porque eu sou
TEU PAI, TEU AMOR e TUA PAZ...
EU SOU JESUS !
( Alceu Malossi -
'Biografia' -
1935/**** )
31/Maio/2005:
PRESENÇA DA TRAGÉDIA
Se alguém me matasse.
Se eu fosse abatido a tiros por uma amante, pelo marido de uma de minhas
amantes, por um neurótico pela fama, por um serial killer americano
que tivesse vindo ao Brasil, pelo engano de um traficante, por um assaltante
num cruzamento, por uma das milhares de balas perdidas que cruzam a
cidade, por uma dessas motos enraivecidas que alucinam o trânsito,
por um colega de profissão inconformado com a minha fama. Se
morresse em uma inundação, atingido por um raio ou por
um árvore derrubada por um vendaval. Por um remédio com
data vencida, por uma comida estragada. Uma tragédia noticiada
por toda a mídia, alimentada e realimentada, provocando manchetes
vorazes, devoradas com prazer pelo público e construindo a minha
legenda. Melhor que fosse algo misterioso. O noticiário duraria
mais tempo, o caso seria revisto por curiosos dispostos a desvendar
enigmas. Provocar a necessidade de uma autopsia, de exumação.
Ser o enigma do século seria a minha glória. Se eu tivesse
essa certeza, não me incomodaria de estar morto.
( Ignácio de Loyola
Brandão - 'Biografia'
- 1936/**** )