" MENSAGEM DO DIA "
MENSAGENS e POESIAS

MARÇO de 2004


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01/Março/2004:

" Discurso na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1920 "

"(...) Ponho exemplo, senhores. Nada se leva em menos conta, na judicatura, a uma boa-fé de ofício que o vezo de tardança nos despachos e sentenças. Os códigos se cansam debalde em o punir. Mas a geral habitualidade e a conivência geral o entretêm, inocentam e universalizam. Destarte se incrementa e desmanda ele em proporções incalculáveis, chegando as causas a contar a idade por lustros, ou décadas, em vez de anos.

Mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Porque a dilação ilegal nas mãos do julgador contraria o direito das partes, e, assim, as lesa no patrimônio, honra e liberdade. Os juízes tardinheiros são culpados, que a lassidão comum vai tolerando. Mas sua culpa tresdobra com a terrível agravante de que o lesado não tem meio de reagir contra o delinqüente poderoso, em cujas mãos jaz a sorte do litígio pendente

Nas sejais, pois, desses magistrados, nas mãos de quem os autos penam como as almas do purgatório, ou arrastam sonos esquecidos como as preguiças do mato.

Não vos pareçais com esses outros juízes, que, com tabuleta de escrupulosos, imaginam em risco a sua boa fama, se não evitarem o contato dos pleiteantes, recebendo-os com má sombra, em lugar de os ouvir a todos com desprevenção, doçura e serenidade.

Não imiteis os que, em se lhes oferecendo o mais leve pretexto, a si mesmos põem suspeições rebuscadas, para esquivar responsabilidades, que seria do seu dever arrostar sem quebra de ânimo ou de confiança no prestígio dos seus cargos.

Não sigais os que argumentam com o grave das acusações, para se armarem de suspeita e execração contra os acusados; como se, pelo contrário, quanto mais odiosa a acusação, não houvesse o juiz de se precaver mais contra os acusadores, e menos perder de vista a presunção de inocência, comum a todos os réus, enquanto não liquidada a prova e reconhecido o delito.

Não acompanheis os que, no pretório, ou no júri, se convertem de julgadores em verdugos, torturando o réu com severidades inoportunas, descabidas, ou indecentes; como se todos os acusados não tivessem direito à proteção dos seus juízes, e a lei processual, em todo o mundo civilizado, não houvesse por sagrado o homem, sobre quem recai acusação ainda inverificada.

Não estejais com os que agravam o rigor das leis, para se acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há nada menos nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente obtida em prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais.

Não julgueis por considerações de pessoas, ou pelas do valor das quantias litigadas, negando as somas, que se pleiteiam, em razão da sua grandeza, ou escolhendo, entre as partes na lide, segundo a situação social delas, seu poderio, opulência e conspicuidade. Porque quanto mais armados estão de tais armas os poderosos, mais inclinados é de recear que sejam à extorsão contra os menos ajudados da fortuna; e, por outro lado, quanto maiores são os valores demandados e maior, portanto, a lesão argüida, mais grave iniqüidade será negar a reparação, que se demanda.

Não vos mistureis com os togados, que contraíram a doença de achar sempre razão ao Estado, ao Governo, à Fazenda; por onde os condecora o povo com o título de "fazendeiros". Essa presunção de terem, de ordinário, razão contra o resto do mundo, nenhuma lei a reconhece à Fazenda, ao Governo, ou ao Estado.

Antes, se admissível fosse aí qualquer presunção, havia de ser em sentido contrário; pois essas entidades são as mais irresponsáveis, as que mais abundam em meios de corromper , as que exercem as perseguições, administrativas, políticas e policiais, as que, demitindo funcionários indemissíveis, rasgando contratos solenes, consumando lesões de toda a ordem (por não serem os perpetradores de tais atentados os que os pagam), acumulam, continuamente, sobre o tesouro público terríveis responsabilidades.

( Ruy Barbosa - 1849/1923 )

02/Março/2004:

“ OS GRILOS ”

Meu filho caçou um grilo e vem trazê-lo a mim
porque alguém lhe disse que,
guardando-o sob uma taça de cristal,
receberemos uma alegria.
Uma alegria?
Então, pequeno mago estridente e negro,
me leva com meu filho até aquele atalho
que eu atravessava todas as tardinhas
quando voltava da escola para minha casa.

Muitos grilos cantavam entre os pastos da ribanceira
e eu fazia o caminho distraída e encantada,
com uma inconsciente e funda poesia no coração.
Sempre amei os grilos e sempre, desde então,
quando nas noites de Janeiro ouço seu cantar,
sinto uma tristeza, uma tristeza.”

( Juana de Ibarbourou - Juana Fernández Morales - 1895/1979 )
Escritora Membro da Academia Uruguaia - Tradução: Carlos Urbin

03/Março/2004:

“ BEM NO FUNDO ”

“ No fundo, no fundo,
Bem lá no fundo,
A gente gostaria
De ver nossos problemas
Resolvidos por Decreto.

A partir desta data,
Aquela mágoa sem remédio
É considerada nula
E sobre ela - silêncio perpétuo.

Extinto por lei todo o remorso,
Maldito seja quem olhar para trás,
Lá prá trás não há nada,
E nada mais.

Mas os problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
E aos domingos, saem todos passear.
O problema, sua senhora
E outros pequenos probleminhas.”

( Paulo Leminski - Soc. Poetas Mortos - 1944/1989 )

04/Março/2004:

“ A VIDA É QUE NOS VIVE ”

“ A vida humana
- na verdade toda a vida -
É poesia.

Nós a vivemos inconscientemente,
dia a dia,
fragmento a fragmento,
mas na sua totalidade
inviolável,
Ela é que nos vive!

( Lou Andreas-Salomé - Soc. Poetas Mortos - 1861/1937 )

05/Março/2004:

“ SER OU NÃO SER DE NINGUÉM? ”
Eis a questão da Geração Tribalista

Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara: 'eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também'. No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo para reclamar de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu.

Beijar na boca é bom? Claro que é! Manter-se sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, de que "toda ação tem uma reação"? Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.

Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. Ficar também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de cultivar a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu - afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança?

A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga apenas o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar.

Já dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi transmitida nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram ( pais e mães dos adeptos do tribalismo) vendem (na maioria das vezes) a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras. Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer". Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional.

Podemos aprender amar se relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optar. E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.

Ser de todo mundo, não ser de ninguém é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão. ”

( Mônica Montone - Clube Cultural - 1980/---)
CLICK aqui e entre em contato com a autora

08/Março/2004:

“ SONHOS DE MENINA ”

A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?

Sonho
risonho:

O vento sozinho
no seu carrinho.

De que tamanho
seria o rebanho?

A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha ...

Na lua há um ninho
de passarinho.

A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha? ”

( Cecília Meireles - Jornal de Poesia - 1901/1964 )

09/Março/2004:

“ SONETO 1042 ”

Amor, que o gesto humano n'alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alma neve.

A vista que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como amor gera num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.”

( Luis de Camões - Instituto Camões - 1524/1580 )

10/Março/2004:

“ TEMPO NOVO ”

“ Há um Novo Tempo
de coisas novas!

Todos sabem
a mudança é irreversível
Mas as velhas formas
não cedem
sem um último gesto
de desespero.

O importante é persistir
Confiar na vitória do Povo.

Avancemos seguros
passo a passo,

Pois a história não se volta
sobre si mesma
É uma espiral infinita
que nada consegue deter!”

( Luis Eurico Tejera Lisboa - Morto pelo Regime Militar - 1944/1972 )

11/Março/2004:

“ FUNERAL DE UM LAVRADOR ”

“ Assiste ao enterro de um lavrador
de eito e ouve o que dizem do morto os
amigos que o levaram ao cemitério:
- Esta cova em que estás,
com palmos medida
é a cota menor que tiraste em vida
- É de bom tamanho
nem largo nem fundo
é a parte que te cabe
neste latifúndio
- É uma cova grande
para o teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo
- É uma cova grande
para teu defunto parco
porém mais que
no mundo
te sentirás largo,
- É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada,
não se abre a boca
- Viverás e para sempre
na terra que aqui aforas
e terás enfim tua raça
- Aí ficarás para sempre,
livre do sol e da chuva
criando suas saúvas
- Agora trabalharás
só para ti, não a meias
como antes em terra alheia
trabalharás uma terra
da qual, além de senhor,
serás homem de eito e trator
- Trabalhando nessa terra,
tu sozinho tudo empreitas:
serás semente, adubo, colheita
- Trabalharás numa terra
que também te abriga e te veste
embora com o brim do nordeste
- Será de terra
tua derradeira camisa
te veste como nunca em vida.
- Será de terra a tua melhor camisa
te veste e ninguém cobiça
- Terás na terra
completo agora o teu fato:
e pela primeira vez, sapato
- Como és homem
a terra te dará chapéu
fosses mulher, xale ou véu.

- Tua roupa melhor
será de terra e não de fazenda:
- Tua roupa melhor
não se rasga se emenda
- Tua roupa melhor
e te ficará bem cingida:
como roupa feita à medida
- E esse chão te é bem conhecido
(bebeu teu suor vendido)
- Esse chão te é bem conhecido
(bebeu o moço antigo)
- Esse chão te é bem conhecido
(bebeu tua força de marido)
- Desse chão és bem conhecido
(através de parentes e amigos)
- Desse chão és bem conhecido
(vive com tua mulher, teus filhos)
- Desse chão és bem conhecido
(Te espera de recém nascido)
- Não tens mais força contigo
deixa-te semear ao comprido
- Já não levas sementes viva:
teu corpo é a própria maniva
- Não levas rebolo de cana:
és o rebolo, e não de caiana
- Não levas semente na mão:
és agora o próprio grão
- Já não tens força na perna:
deixa-te semear na coveta
- Já não tens força na mão:
deixa-te semear no leirão
- Dentro da rede não vinha nada,
és tua espiga debulhada
- Dentro da rede vinha tudo
só tua espiga no sabugo.
- Dentro da rede coisa vasqueira,
só maçaroca banguela
- Dentro da rede coisa pouca,
tua vida que deu sem soca
- Na mão direita um rosário,
milho negro e ressecado
- Na mão direita somente
o rosário, seca semente
que escapou de teu peito à viração
- Tanta coisa despiste em vida
que fugiu de teu peito a brisa
- E agora, se abre o chão e te abriga,
lençol que não tiveste em vida
- Se abre o chão e te fecha,
dando-te agora cama e coberta
- Se abre o chão e te envolve,
como mulher com quem se dorme. ”

( João Cabral de Melo Neto - Morte e Vida Severina - 1920/1999 )

12/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 01 -

“ Havia um homem muito especial, que era seguido por multidões. Ele viveu há cerca de dois mil anos e, sem derramar uma gota do sangue de qualquer pessoa, mudou o mundo. Qual é o seu nome ? É desnecessário dizer... A história é contada antes e depois dele. Ele conquistou o coração das pessoas e transformou sua maneira de pensar. Se você quiser ajudar alguém, não o controle, primeiro conquiste o seu interior e depois o ensine a pensar!

Na época em que ele viveu, o egoísmo e o individualismo faziam parte da rotina das pessoas. Cada um procurava apenas os seus próprios interesses. O amor estava sufocado esquecido. A tolerância e o perdão eram jóias raras, difíceis de serem encontradas.

Ele não teve privilégios sociais. Nasceu entre os animais. Foi perseguido aos dois anos de idade. Não lhe deram a chance de brincar. Na adolescência foi um carpinteiro. Construía objetos de madeira e telhados. Carregava pesadas toras. Tinha calos e bolhas nas mãos, mas não reclamava. Trabalhou com o martelo, pregos e madeira. Vejam isso: trabalhou com as mesmas ferramentas que um dia o destruíram.

Ele não freqüentou os bancos de uma escola, mas freqüentou a escola da vida. Nessa escola, ele aprendeu a enfrentar o preconceito, o medo e as fragilidades humanas. Foi um grande aluno, por isso tornou-se um grande mestre. Enquanto entalhava a madeira, analisava o coração das pessoas e percebia cada uma das suas dificuldades .... ”

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )
trecho extraído do Livro "Harry Potter no Mundo Real - Escola da Vida"
um maravilhoso presente para os JOVENS, dos 9 aos 99 anos ...

15/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 02 - Ver Início

“... Com trinta anos de idade, resolveu revelar seus pensamentos. Era de se esperar que ele fosse uma pessoa agressiva, ansiosa e infeliz, pois atravessou muitas dificuldades, desde a infância, mas revelou-se gentil, tranqüilo e feliz.

Ele não usava lousa e giz, mas era tão inteligente que as pessoas paravam tudo o que faziam para ouvi-lo. O mestre da escola da vida falava com poesia. Suas palavras colocavam combustível no ânimo das pessoas, reacendiam sua esperança.

Era sociável, gostava de festas e jantares. Todos queriam dar um jeito de ficar ao seu lado. Era um fantástico contador de histórias. Sua mente era muito criativa. Sua imaginação, fértil como as terras às margens do Nilo. Contava histórias tão interessantes que as crianças e os jovens não piscavam os olhos ao escutá-las.

Certa vez, algumas crianças queriam se aproximar dele para ouvi-lo, mas os seus amigos íntimos as impediram. Os seus amigos não o compreendiam, por isso, freqüentemente o atrapalhavam. Dessa vez, ele lhes deu uma grande lição: tomou as crianças nos seus braços, acariciou-as e, após essa atitude, olhou para seus discípulos e atacou as suas mentes limitadas. Disse-lhes: 'Se vocês não forem simples como essas crianças, não entrarão no meu reino'.

Para o mestre, na escola da vida não havia diplomas, todos deviam se comportar como alunos. Ninguém poderia entender suas mensagens se não se comportasse como uma pequena criança. Por quê ? Porque uma criança é uma esponja que absorve tudo no meio ambiente. A infância é a melhor fase para se aprender. Perder a capacidade de aprender é um desastre. O orgulho, os preconceitos e a auto-suficiência destroem essa capacidade.

Uma das maiores lições que ele queria que todos aprendessem é a não discriminar qualquer ser humano. Ele valorizou os deficientes, os cegos, os paralíticos e os que viviam à margem da sociedade. Os leprosos eram pessoas deformadas, cheias de úlceras. Alguns exalavam um odor desagradável, pois não havia tratamento na época. Eles estavam doentes no corpo e solitários na alma. Todos os rejeitavam, dos amigos aos familiares. Todavia, para a nossa surpresa, esse mestre fez deles seus íntimos companheiros... ”

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

16/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 03 - Ver Início

“... Alguns dias antes de morrer, ele estava na casa de um homem. Lá ninguém tinha coragem de entrar: na casa de um leproso chamado Simão. O mestre dos mestres teve longas conversas com ele. Sentou-se à mesa e comeu da sua comida. Simão não podia acreditar que alguém tão famoso pudesse dar tanta importância para si. De fato, ele gastou os momentos mais importantes de sua vida com as pessoas menos importantes da sociedade. Viveu os patamares mais altos da inteligência emocional.

Sua inteligência deixava os homens pasmados. Ele não buscava ser um líder político ou religioso, ele apenas queria conquistar o amor do homem! Por isso, diferente de alguns líderes políticos e religiosos da atualidade, ele não controlava ninguém. Não obrigava ninguém a segui-lo. Não os pressionava com milagres ou com sua eloqüência. Ele só aceitava seguidores se eles aprendessem o alfabeto do amor: você conhece esse alfabeto?”

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

17/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 04 - Ver Início

“... Embora fosse muito poderoso, ele preferia ser reconhecido como o mestre da sensibilidade. O que é ter sensibilidade? É valorizar as pequenas coisas e fazer delas um espetáculo aos nossos olhos.

Quando alguém está no auge da fama, freqüentemente se preocupa com os aplausos das multidões, com os autógrafos, com os shows e discursos. Mas ele era diferente dos famosos da atualidade. Não se preocupava com os aplausos, preferia dar uma atenção especial às pequenas coisas.

As multidões o espremiam, todos queriam fazê-lo rei. De repente, ele parou de caminhar e silenciou-se. As pessoas acharam que ele ia fazer mais um discurso vibrante. Mas, ao invés disso, teve um gesto surpreendente. Ele foi em direção a algumas flores. Olhou atentamente para elas e começou a admirá-las profundamente. Ninguém entendeu nada.

Para o espanto de todos, após admirá-las, falou com voz delicada e firme: 'Olhai os lírios dos campos. Eles não tecem uma roupa, mas nem o rei Salomão se vestiu como um deles.'

Todos ficaram calados. Sabiam que o rei Salomão, que havia vivido há muitos séculos, era poderoso e tinha centenas de pessoas que o serviam. Suas vestes reais eram tecidas com fios de ouro. Elas se perguntavam: 'Como pequenos lírios podem ser mais belos do que as vestes desse grande rei?' ”

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

18/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 05 - Ver Início

“... Aos olhos do mestre da sensibilidade aquelas pequenas flores a quem ninguém dava importância, que cresciam nos campos sem ninguém cultivar, eram mais belas que as vestes de um grande rei. Para ele, as pequenas coisas eram tanto ou mais importantes do que as grandes. Os lírios representam tudo aquilo que parece pequeno, mas que é tão importante para a nossa vida.

Sua vida tem tido lírios? Você tem dado valor às pequenas coisas ao seu redor? Tem feito de um pequeno diálogo com seus amigos um espetáculo aos seus olhos? Você tem tido o prazer de conhecer o mundo dos seus professores, descobrir suas aventuras, suas vitórias, suas derrotas? Você tem tido o prazer de conversar com seus pais sobre o passado deles? Será que vocês não estão próximos fisicamente e distantes interiormente?

Você precisa de lírios na sua vida. Converse com seus pais, pergunte sobre os momentos mais tristes e os mais alegres de suas vidas. Mesmo um pai rígido e agressivo tem ouro dentro da rocha da sua emoção. Saia do superficialismo.

Converse com seus amigos sobre seus sonhos, suas metas, suas frustrações. Um grande amigo vale mais do que uma grande fortuna. Critique menos e elogie mais. Elogie seus pais, seus irmãos, seus colegas. O elogio cultiva os lírios do coração. ”

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

19/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 06 - Ver Início

“... Na escola da vida devemos dar importância vital ás pequenas coisas. Por exemplo, raramente as pessoas gastam tempo observando as borboletas. Parece que elas não têm importância alguma. Mas você sabia que quanto mais espécies de borboletas existirem num certo ambiente, mais preservado ele estará?

Foram encontradas 250 espécies diferentes de borboletas em áreas arborizadas da cidade de São Paulo. Parece muito, mas não é. A poluição de São Paulo destruiu cerca de 500 espécies. Se o ambiente fosse puro, o número de espécies encontradas estaria em torno de 750. ”

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

22/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 07 - Ver Início

“... As borboletas são as dançarinas do ar. Elas procuram o néctar das flores, o rico suprimento que as alimenta. Após sugá-lo, batem em retirada para outras flores, polinizando o jardim e facilitando a produção de mais plantas. Elas são tão pequenas, mas tão importantes!

Infelizmente, são muito sensíveis à poluição. Se no ambiente que você freqüenta não encontrar alegres borboletas dançando no ar, saiba que o ar que você respira é ruim e sua qualidade de vida está afetada. Você tem o direito de respirar um ar puro. Não se cale, reclame dele para as secretarias das prefeituras.

Quantas espécies de borboletas você tem visto na região onde mora? Talvez você tenha tempo para assistir à TV e ver filmes que trazem cenas de violência, mas não tem alguns segundos para admirar as pequenas coisas que o circundam ...

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

23/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - Parte 08 - Ver Início

“... Gaste tempo com aquilo que gera um prazer saudável. Há homens milionários que constroem palácios e imensos jardins, mas não têm tempo para admirar suas flores. São ricos financeiramente, mas miseráveis no território da emoção. Seja rico dentro de você, no único lugar onde não é admissível ser pobre.

Os discípulos do mestre da sensibilidade estavam preocupados com seus milagres, com posição social e poder político. Mas ele mostrou que o maior milagre é aquele que se esconde nas pequenas coisas.

Não se esqueça das pequenas coisas. Elas escondem os segredos da FELICIDADE ...”

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

24/Março/2004:

“ O MESTRE E AS FLORES ”
Livro Harry Potter na Vida Real - Capítulo 5 - FINAL: PENSE NISSO - Ver Início

“ Parece que alguns jovens são imutáveis. Quebram a cara, mas não mudam. Tropeçam cem vezes, mas ainda andam pelo mesmo caminho. São mestres da teimosia.

Dão sempre as mesmas respostas para os mesmos problemas. Não conseguem questionar as suas opiniões. Não abrem as janelas de suas mentes para ver o mundo de outra maneira. Por quê?

Um dos motivos é o excesso de informação não trabalhada. Ter muitas informações, mas pensar pouco, não é muito útil. Consumir informações é bom, idéias é melhor. Não engula o que os outros dizem a você. Seja crítico! Debata as idéias em sala de aula e nos ambientes sociais.

Acredite! O caminho para expandir a inteligência é transformar as informações em conhecimento e o conhecimento em experiência. E aí garoto(a)? Quer fazer diferença? Ande nesse caminho! ” (Dica do Prof. Estressildo)

( Dr. Augusto Jorge Cury - Biografia - 1958/*** )

25/Março/2004:

“ OS CAMINHOS DA COMPREENSÃO MUNDIAL”
- O Exercício da Compreensão -

A compreensão como um instrumento para o entendimento é uma atitude plural, mútua, que tem sua origem, no entanto, na compreensão que temos de nós mesmos. Só no respeito às diferenças é que podemos construir comportamentos, estabelecer planos e mudar atitudes - as nossas e as dos outros. Compreender o outro não é sinônimo de nos anular. Divergir é um direito de cada um, seja na relação entre pai e filho, entre jovem e adulto, homem e mulher, ou nas relações entre empregado e empregador, administrador e servidor, ou naquelas em que repartimos nossos ideais.

A respeito disso, assim se expressou Paul Harris: 'Seria demais esperar que todos se entendessem perfeitamente... Os homens não têm pensamentos idênticos, assim como tampouco têm feições idênticas ... A crença de uma pessoa é influenciada por diversos fatores - temperamento, hereditariedade, contexto, experiência - e os líderes devem balancear seu julgamento com paciência e indulgência. Um Rotary dogmático será incapaz de servir'.

Aí temos, portanto, os Rotary Clubs como um grande laboratório para o crescimento individual e das relações interpessoais. Atitudes agressivas, que não precisam ser necessariamente físicas, acontecem, infelizmente, nessas relações - e em nada contribuem para o bem-estar de quem as pratica, com prejuízos, às vezes fatais, para o próprio grupo. Há que se entender a importância de cada atitude pessoal como um fator que facilite a harmonia e a construção de um grupo.

Essa tem sido a estratégia de servir do Rotary, em benefício de cada comunidade: harmonizando as diferenças nos clubes e prestando serviços na quantidade e na qualidade necessárias. São essas necessidades não resolvidas -e às quais todo ser humano tem direito - que geram os grandes conflitos. Compreendê-las e agir a partir desse entendimento são as obrigações de cada cidadão como uma contribuição em favor da paz local. ”

( Adelia A. Villas - EGD4570 - Rotary Club Rio de Janeiro-Guanabara )
parte do artigo publicado em Brasil Rotário - FEV/04

26/Março/2004:

“ OS CAMINHOS DA COMPREENSÃO MUNDIAL”
- A não-violência -

Mahatma Gandhi, um exemplo de liderança, mostrou ao mundo como mudar o curso da história de toda uma nação através de métodos humildes e não-violentos. Ele externou e praticou essas ações reunindo-as em quatro pontos fundamentais: a vida cotidiana de cada ser humano, com o conhecimento de suas necessidades, valores e aspirações; a importância da cooperação, já que todo ser humano é interdependente; a prática da não-violência, não importando o quanto de provocação e agressão se apresentem; e a fé, como fator de engrandecimento e realização de vida. Todos esses valores, assim entendidos e vividos, são fatores para o alcance da paz.

Descrito como um líder sem o dom da oratória, Gandhi conquistou a todos por seu exemplo e por sua coerência entre ação e discurso. Sobre os pontos fundamentais para se conseguir a paz assim ele se expressou:

'De que vale a fé se não for convertida em ação?'
'A liberdade individual e a interdependência são essenciais para a vida em sociedade'.
'A não-cooperação com o mal é um dever tão importante quanto a cooperação com o bem'.
'A não-violência nunca deve ser usada como um escudo para a covardia. Ela é uma arma para os bravos'.

Gandhi exemplificava essa máxima com uma experiência vivida por ele na África do Sul, com o general Boër Smuts, seu oponente e crítico, e que acabou tornando-se um dileto amigo do líder indiano.

'O teste maior da não-violência está no fato de não ficar qualquer rancor depois de um conflito não-violento, com os inimigos convertendo-se em amigos'.

As dimensões desses dois grandes homens, Paul Harris e Gandhi, contemporâneos e semelhantes nas suas lições de vida, são para nós a certeza da importância do nosso papel de rotarianos em relação à humanidade. Segundo Martin Luther King: 'Gandhi viveu, pensou e agiu inspirado pela visão da humanidade evoluindo para um mundo de paz e harmonia'. Nós, rotarianos, sabemos quão importante foi também a liderança de Paul Harris, concretizada até os nossos dias em ações que são os reflexos dos seus pensamentos.. ”

( Adelia A. Villas - EGD4570 - Rotary Club Rio de Janeiro-Guanabara )
parte do artigo publicado em Brasil Rotário - FEV/04

29/Março/2004:

“ OS CAMINHOS DA COMPREENSÃO MUNDIAL - FINAL ”
- Mudanças no Novo Século -

Pelas grandes lideranças que sempre exerceu em seus 99 anos de existência, o Rotary demonstrou através de seus programas que está em dia com as mudanças ocorridas no mundo. E, por isso mesmo, como uma organização rica em programas, ele tem sido procurado como parceiro por outras grandes organizações humanitárias em conseqüência do merecido crédito conquistado pelos rotarianos nesse quase um século de bem-servir.

A visão demonstrada no planejamento dos grandes programas, seja no caso das bolsas de estudos, da Polio Plus, do Programa 3H - que objetiva a erradicação da fome, prestando assistência adequada a uma vida digna para diversas populações carentes - ou do Lighthouse, que atende o direito universal da alfabetização, mostra que o Rotary é capaz de enxergar à sua frente, que ele experimenta em médias escalas e está pronto para efetivar parcerias quando o bem-estar do ser humano está em jogo. Apesar de tantos esforços e progresso da humanidade, a distância entre as classes sociais continua a aumentar, numa demonstração de que, enquanto todos - governos, líderes mundiais e sociedade - não estiverem conscientes e verdadeiramente comprometidos com as soluções, não teremos a paz e justiça social que tanto almejamos e que o ser humano merece.

O triste episódio da morte do embaixador Sergio Vieira de Melo no Iraque diz bem das dificuldades que o mundo enfrenta para solucionar conflitos, talvez o maior obstáculo para paz no mundo.

Desde 1947, o Rotary Internacional, através da Fundação Rotária, já atendeu a mais de 30 mil estudantes provenientes de 67 países. Jovens que puderam usufruir de nossas bolsas educacionais de pós-graduação em 70 diferentes nações, naquele que é o maior programa privado de bolsas de estudo do mundo. Muito apropriadamente, esses estudantes são chamados por nós de embaixadores da boa vontade, pois esse é o objetivo da nossa organização ao selecionar jovens sem nenhuma ligação com o Rotary. Deles, pedimos apenas que retornem aos seus países e que sejam instrumentos na conquista da compreensão entre os povos, raças e religiões, visando o fortalecimento dos laços de amizade entre as populações das diferentes nações da Terra.

Nesse sentido, a nossa certeza de que estamos contribuindo para um mundo mais pacífico é tão grande que, desde 2002, um novo programa de bolsas, em nível de graduação e mestrado, foi disponibilizado a jovens profissionais que esteiam dispostos a se especializarem na área de Resolução de Conflitos e de Estudos pela Paz e as Relações Internacionais. A cada ano, 70 profissionais estarão estudando em universidades de diversas regiões do mundo que estabeleceram, em parceria com a nossa organização, os sete Centros Rotary para Estudos Internacionais pela Paz e Resolução de Conflitos. Essa é a contribuição que o Rotary dá como prova concreta de seu envolvimento pela compreensão entre os povos e em busca da paz neste novo século.

Juntamente com os programas locais implementados pelos clubes rotários, fruto da compreensão e do esforço dos rotarianos na busca pela paz em âmbito local, os profissionais formados pelos Centros Rotary pela Paz voltarão aos seus países e poderão exercer funções de altos comissários com grande competência na solução dos conflitos internacionais.

Os resultados desse grande investimento possivelmente ainda não podem ser mensurados, em termos de quanto o mundo e a humanidade já lucraram em prol da paz. Mas esse investimento é de resultado tão certo e de retorno tão garantido que o Rotary continua a financiar, após 56 anos, mais e mais estudantes. Temos o registro de ex-bolsistas proeminentes que atualmente ocupam cargos na ONU, que são ministros ou embaixadores em seus países, cientistas e jornalistas premiados. Homens e mulheres que certamente norteiam suas vidas e suas carreiras comungando os ideais de paz dos rotarianos.

( Adelia A. Villas - EGD4570 - Rotary Club Rio de Janeiro-Guanabara )
parte do artigo publicado em Brasil Rotário - FEV/04

30/Março/2004:

“ OS SOFISTAS E O PERÍODO SOCRÁTICO - Parte 1”
- maiêutica e ironia -
Cristina G. M. de Oliveira

O período pré-socrático foi dominado, em grande parte, pela investigação da natureza. Essa investigação tinha um sentido cosmológico, Era a busca de explicações racionais para o universo, manifestada na procura de um princípio primordial (arché) para todas as coisas existentes. Seguiu-se a esse período uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade. Essa nova fase foi marcada, no início, pelos sofistas.

Etimologicamente, o termo sofista significa sábio. Entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de impostor devido, sobretudo, ás críticas de Platão.

Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloqüência e sagacidade mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios públicos e privados.

O momento histórico vivido pela civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de atividade, praticada pelos sofistas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembléias democráticas. Por isso, os cidadãos mais ambiciosos sentiam a necessidade de aprender a arte de argumentar em público para, manipulando as assembléias, fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe.

As lições sofísticas tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.

Segundo essas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias (...)

Nosso Comentário: " Os SOFISTAS foram anteriores e contemporâneos a Sócrates, que viveu entre 469 e 399a.C.. O que é incrível é como conseguiram RENASCER nos dias atuais, quase 2500 anos depois, e com tanta força... . Vemos em todos os cantos e organizações, públicas e privadas, do mundo 'moderno', os novos 'cidadãos ambiciosos' pagando vultosas quantias aos neo-sofistas, agora chamados vulgarmente 'marketeiros', com a mesma finalidade: manipular a opinião pública e driblar a verdade... Talvez nos reste orar a DEUS, para também fazer renascer um Sócrates, um Platão, um Aristóteles e quiçá podermos ver desmascarada tamanha HIPOCRISIA e desrespeito acintoso a VERDADE, sempre una, pura e incorruptível, para os que têm 'olhos de ver' e 'ouvidos de ouvir' ..."
(Eng. Celio Franco - Gestor do Portal Nosso São Paulo)

31/Março/2004:

“ OS SOFISTAS E O PERÍODO SOCRÁTICO - Final ”
- maiêutica e ironia -
Cristina G. M. de Oliveira

Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.), é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos e os que o sucederam pós-socráticos. O próprio Sócrates não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários.

O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se ao dos sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral.

O autoconhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática: 'Conhece-te a ti mesmo', frase inscrita no Templo de Apolo, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.

Sócrates percebe que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância: 'Só sei que nada sei' é, para Sócrates, o princípio da sabedoria, atitude em que assume a tarefa verdadeiramente filosófica de superar o enganoso saber baseado em idéias pré-concebidas.

Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia (do grego eironeia, perguntar fingindo ignorar) e a maiêutica (de maieutiké, relativo ao parto).

Na linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido da ironia socrática. No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber: O que é o bem? O que é a Justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele.

Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber.

A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorância, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividência.

Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução das próprias idéias.

Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de idéias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa 'trazer à luz' .

A doutrina socrática identifica o sábio e o homem virtuoso. Derivam daí diversas conseqüências para a educação, tais como: (1) o conhecimento tem por fim tornar possível a vida moral; (2) o processo para adquirir o saber é o diálogo; (3) nenhum conhecimento pode ser dogmaticamente ministrado, mas como condição para desenvolver a capacidade de pensar; (4) toda a educação é essencialmente ativa, e por ser auto-educação, leva ao conhecimento de si mesmo; (5) a análise radical do conteúdo das discussões, retiradas do cotidiano, leva ao questionamento do modo de vida de cada um e, em última instância, da própria cidade.

Interessado somente na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno). A história da sua acusação, defesa e execução é contada nos belos diálogos de Platão: 'Apologia de Sócrates e Fédon'.”

Diferenças entre Sócrates e os Sofistas:
1- O Sofista é um professor ambulante. Sócrates é alguém ligado aos destinos de sua cidade;
2-O Sofista cobra para ensinar. Sócrates vive sua vida e essa confunde-se com a vida filosófica: 'Filosofar não é profissão, é atividade do homem livre';
3- O Sofista 'sabe tudo', e transmite um saber pronto, sem crítica (que Platão identifica como uma mercadoria, que o sofista exibe e vende). Sócrates diz nada saber e, colocando-se no nível do seu interlocutor, dirige uma aventura dialética em busca da verdade, que está no interior de cada um;
4- O Sofista faz retórica. Sócrates faz dialética. Na retórica o ouvinte é levado por uma enxurrada de palavras que, se adequadamente compostas, persuadem sem transmitir conhecimento algum. Na dialética, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo, e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás;
5- O Sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. Sócrates refuta para purificar a alma de sua ignorância.

( Cristina G. Machado de Oliveira - Profª Mestra em Filosofia - 1975/** )
( Filosofia Virtual - Veja em nossa Página Educação )

Nosso Comentário: " Não sei quanto aos leitores, mas vejo uma semelhança incrível entre os SOFISTAS de ontem e os POLÍTICOS e 'MARKETEIROS' (no sentido pejorativo mesmo...) de hoje. Quanto à escolha, cada um tem seu 'livre arbítrio'... eu, particularmente, escolho a busca da VERDADE e o combate à HIPOCRISIA..., por um mundo melhor, mesmo que seja obrigado a tomar 'cicuta' também ... Aliás, cerca de 400 anos após Sócrates, tivemos um outro que nasceu entre nós, que dividiu a história por seus ensinamentos de amor e fraternidade, que respeitava a liberdade de pensamentos... e que também foi acusado de blasfemar contra Deus, de corromper a religião... sendo pregado numa cruz... Até quando vamos errar em nossas escolhas???"

(Eng. Celio Franco - Gestor do Portal Nosso São Paulo)

 

Portal Nosso São Paulo - www.nossosaopaulo.com.br