MENSAGENS / POESIAS

NOVEMBRO de 2003
Este espaço é aberto e atento à livre expressão de pensamentos!


www.nossosaopaulo.com.br

Voltar ao Atual

03/Novembro/2003:

"SONETO"
- Últimos Cantos - 1851 -

"Baixel veloz, que ao úmido elemento
A voz do nauta experto afoito entrega,
Demora o curso teu, perto navega
Da terra onde me fica o pensamento!

Enquanto vais cortando o salso argento,
Desta praia feliz não se desprega
(Meus olhos, não, que amargo pranto os rega)
Minha alma, sim, e o amor que é meu tormento.

Baixel, que vais fugindo despiedado
Sem temor dos contrastes da procela,
Volta ao menos, qual vais tão apressado.

Encontre-a eu gentil, mimosa e bela!
E o pranto que ora verto amargurado,
Possa eu então verter nos lábios dela!"

( Gonçalves Dias - 'Biografia' - 1823/1864 )

04/Novembro/2003:

"CANÇÃO"

"Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio ...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praias lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas."

( Cecília Meireles - 1901/1964 )

05/Novembro/2003:

"REDAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL"
- Trechos do texto da CONCLUSÃO -
(Para leitura completa, visite nosso portal e CLICK em Rui Barbosa/Textos"

"Mas já é tempo de pôr termo a esta defesa. Não foi a meu prazer que a dilatei, como quem navegasse a cairo largo por mares amigos. Pouco me importava, a mim pessoalmente, ficar, ou não, em seguro das frechadas, que voavam sobre o meu nome de escritor. Mais do que este me interessa hoje a economia do meu tempo, reclamado por outros encargos. Por mais setas que contra mim embebessem no arco as paixões agastadas, enquanto só a minha individualidade perigasse, bem pouco se me dava. Já me habituei a não lhe acudir, em tais casos, por mais numeroso que seja, na acometida, o golpe de inimigos. Sei que a parte que de mim conhece o mundo, pouco me sobreviverá; e já por ela me não mato. Outros interesses, porém, estavam em jogo, uma vez que a comissão especial do Senado fizera seu, por voto unânime, o meu trabalho. Desde então era a sua responsabilidade coletiva o que punham a vulto as agressões endereçadas ao meu escrito. Desagravá-la me ficava sendo, portanto, um dever, com que eu não podia deixar de cumprir, sem incorrer em deserção e covardia. (...)

(...) Foi o de que me desempenhei, começando por mostrar que nem por toque ofendera os nossos predecessores na colaboração do Código Civil, a Câmara, a sua comissão, o primeiro autor do projeto, os seus revisores extraparlamentares, o filólogo baiano, em quem os comissários da outra casa do Congresso delegaram às vezes do seu poder quanto à matéria gramatical, e discutindo em seguida, tirados ao claro estes pontos de cortesia elementar, com os contraditores que tão asperamente vinham renhir comigo sobre o assunto, as injustiças da sua censura.

Se o logrei, dirão os que tiveram a paciência de me ler. Mas era mister a todo o risco tentá-lo; e não o podia fazer em palavras taxadas e avaras. Força era discorrer por largo, e esquadrinhar por miúdo, cerrar argumentos, multiplicar provas, e, atravessando rota batida o fadigosíssimo estirão, dar sucessivamente alcance aos erros, malignidades e sofismas, que mo dificultavam. Não creio que de tão dura prova conseguisse alguém sair à satisfação de todos. Como o alcançaria, pois, quem de tantas qualidades para tamanha porfia se sente desprovido? Ainda quando, porém, todas me faleçam, não me hão de achar menos a consciência própria e o respeito da alheia, o desejo do bom e o amor da verdade, a paixão do dever e o entusiasmo do trabalho. Muito mais longe me levariam eles, se a natureza deste papel mo consentisse. Mas, enquanto qualquer margem me restava de voluto, não deixei censura alguma por ventilar, embora fosse apertada a estreiteza de praça na tela, e as liberdades que ousei no excedê-la fossem grandes.

Quem quer que possuir experiência ou noção destes estudos, avaliará o que neste caso me custaram, o que representa de esforço, tenacidade e capricho investigativo a soma de elementos críticos e documentos literários, aqui reunidos, à sôfrega, no espaço de alguns meses, por um trabalhador entregue exclusivamente a si mesmo e com a vida, a responsabilidade, a atenção divididas entre tantos outros empenhos. Valha-me esta consideração de escusa às faltas, que, a pesar meu, houverem escapado às insuficiências da minha aptidão para empresa tamanha. Seja quais forem elas, porém, não terei vendido barato ao inimigo a confiança dos meus colegas. E é quanto me basta por consolo e pago (...)

(...) Não julgueis por considerações de pessoas, ou pelas do valor das quantias litigadas, negando as somas, que se pleiteiam, em razão da sua grandeza, ou escolhendo, entre as partes na lide, segundo a situação social delas, seu poderio, opulência e conspicuidade. Porque quanto mais armados estão de tais armas os poderosos, mais inclinados é de recear que sejam à extorsão contra os menos ajudados da fortuna; e, por outro lado, quanto maiores são os valores demandados e maior, portanto, a lesão argüida, mais grave iniqüidade será negar a reparação, que se demanda.

Não vos mistureis com os togados, que contraíram a doença de achar sempre razão ao Estado, ao Governo, à Fazenda; por onde os condecora o povo com o título de "fazendeiros". Essa presunção de terem, de ordinário, razão contra o resto do mundo, nenhuma lei a reconhece à Fazenda, ao Governo, ou ao Estado.

Antes, se admissível fosse aí qualquer presunção, havia de ser em sentido contrário; pois essas entidades são as mais irresponsáveis, as que mais abundam em meios de corromper, as que exercem as perseguições, administrativas, políticas e policiais, as que, demitindo funcionários indemissíveis, rasgando contratos solenes, consumando lesões de toda a ordem (por não serem os perpetradores de tais atentados os que os pagam), acumulam, continuamente, sobre o tesouro público terríveis responsabilidades."

(Discurso na Faculdade de Direito de São Paulo, 1920. Editado em livro, 1921.)

( Ruy Barbosa de Oliveira - 1849/1923 )

06/Novembro/2003:

"A VERDADE É COMO O SOL,
QUE UM ECLIPSE PODE ESCURECER, MAS NÃO APAGAR!"

"Muitas pessoas acreditam poder esconder a verdade por tempo indeterminado, crendo assim, livrarem-se de problemas imediatos ou futuros. São pessoas que perderam a fé na verdade por viverem num mundo onde predomina e prevalece a mentira.

No entanto, a verdade não pode ser apagada, no máximo adiada, pois está sempre amparada em fatos e não no imaginário ou na opinião de quem quer que seja.

A verdade, sobretudo, por mais que doa, sempre dói menos no presente que no futuro, quando a mentira já pode ter feito estragos irreversíveis, desdobrando-se em outras mentiras.

A verdade ilumina a realidade e garante a estabilidade da VIDA, por isso pode ser adiada, jamais apagada!"

( Paulo R. Santos - Dia a Dia - Conceitos para Viver Melhor )

07/Novembro/2003:

"4º MOTIVO DA ROSA"

"Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim."

( Cecília Meireles - 1901/1964 )

10/Novembro/2003:

"PASSAGEM DAS HORAS"

"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero."

( Fernando Pessoa - 1888/1935 )

11/Novembro/2003:

"DESEJO"

"Desejo primeiro, que você ame,e que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde magoa.
Desejo pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconseqüentes,
sejam corajosos e fiéis, e que em pelo menos num deles você possa confiar sem duvidar,
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos;
Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes,
você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante;
não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais,
e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
e que sendo velho não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo, por sinal, que você seja triste;
não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom;
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra, com o máximo de urgência,
acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta
.

Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco e ouça o João-de-barro
erguer triunfante o seu canto matinal;
porque assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
por mais minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele
na sua frente e diga "Isso é meu",
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você,
mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo um homem, tenha uma boa mulher,
e que sendo uma mulher, tenha um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,
e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho nada mais a te desejar."

( Víctor Hugo - 1802/1885 - veja aqui sua biografia e outros poemas )

12/Novembro/2003:

"ANTE O CÉU ESTRELADO"

"Senhor:
ante o céu estrelado,
que nos revela a tua grandeza,
deixa que nossos corações se unam
à prece das coisas simples ...

Concede-nos, Pai,
a compaixão das árvores,
a espontaneidade das flores,
a fidelidade da erva tenra,
a perseverança das águas que
procuram o repouso nas profundezas,
a serenidade do campo,
a brandura do vento leve,
a harmonia do outeiro,
a música do vale,
a confiança do inseto humilde,
a o espírito de serviço da terra
benfazeja, para que não estejamos
recebendo, em vão, tuas dádivas, e
para que o teu amor resplandeça, no
centro de nossas vidas,
agora e sempre.
Assim seja."

( Chico Xavier - pela pena espiritual de Emmanuel - 1910/2002 )

13/Novembro/2003:

"VAZIO"

"A chuva há de cobrir friamente de branco os morros longes,
feito um fantasma bondoso.

Depois, há de vir numa carícia gelada, afagar a cidade quieta,
num gesto apagado de mão defunta.

E molhará o recolhimento místico das grandes árvores.
E baterá mansamente na vidraça do meu quarto,
numa irresolução medrosa de amante que prometeu não vir.

Depois, sob a poeira da chuva fina,
fria,
indiferente,
teimosa,
ficará o vazio do meu coração,
a saudade nebulosamente imprecisa do seu corpo,
que eu nunca possuí.

As árvores lá fora estão pingando!"

( Bernardo Élis - Soc. dos Poetas Mortos - 1915/1997 )

14/Novembro/2003:

"PALAVRAS A UM GENERAL"

"General, teu tanque é um carro forte.
Ele derruba uma floresta
e esmaga cem homens.
Tem, porém, um defeito:
precisa de um motorista.

General, teu bombardeiro é poderoso.
Voa mais depressa que a tempestade,
carrega mais que um elefante.
Tem, porém, um defeito:
precisa de um piloto.

General, o homem é muito útil.
Sabe voar, sabe matar.
Tem, porém, um defeito:
Ele sabe pensar!"

( Bertolt Brecht - Soc. dos Poetas Mortos - 1898/1956 )

17/Novembro/2003:

"A EXCEÇÃO E A REGRA"

"Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso.
Mas não se esqueçam
de que o abuso é sempre a regra."

( Bertolt Brecht - Soc. dos Poetas Mortos - 1898/1956 )

18/Novembro/2003:

"O SUSPIRO"

"Voai, brandos meninos tentadores,
Filhos de Vênus, deuses da ternura,
Adoçai-me a saudade amarga e dura,
Levai-me este suspiro aos meus amores:

Dizei-lhe que nasceu dos dissabores,
Que influi nos corações a formosura.
Dizei-lhe que é penhor da fé mais pura,
Porção do mais leal dos amadores:

Se o fado para mim sempre mesquinho,
A outro of'rece o bem de que me afasta,
E em ais lhe envia Ulina o seu carinho:

Quando um deles soltar na esfera vasta,
Trazei-o a mim, torcendo-lhe o caminho;
Eu sou tão infeliz, que isso me basta."

( Bocage 'Manuel Maria l'Hedoux de Barbosa' - Soc. dos Poetas Mortos - 1765/1805 )

19/Novembro/2003:

"ANJO CAÍDO"

"Na flor da vida, formosa,}
ingênua, casta, inocente,
eras tu no mundo, rosa!
Quem te arrojou de repente
para o abismo fatal?
Viste um dia o sol de abril;
o teu seio virginal
sorriu alegre e gentil.

Ergueu-se aos clarões suaves
d'aquela doce alvorada
a tua face encantada
Amaste o doce gorjeio
que desprendiam as aves,
e no teu cândido seio
quanto amor, quanta ilusão
alegre pulava então.

Mal haja o fatal destino,
maldita a sinistra mão,
que em teu cálix purpurino
derramou fera e brutal
esse veneno fatal.

Hoje és bela; mas teu rosto
que outrora alegre sorria,
é todo melancolia!

Hoje nem sol, nem estrela,
para ti brilha o céu;
mal haja quem te perdeu!."

( Bulhão Pato - Soc. dos Poetas Mortos - 1829/1912 )

20/Novembro/2003:

"POEMA"

"Trago comigo um retrato
que me carrega com ele bem antes
de o possuir e bem depois de o ter perdido.
Toda felicidade é memória e projeto."

( Cacaso - Soc. dos Poetas Mortos - 1944/1987 )

21/Novembro/2003:

"AMAR E SER AMADO"

"Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu'alma, ter só vida
P'ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano -,
Beijar teus dedos, em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante - amado -
Como um anjo feliz ... que pensamento !?"

( Castro Alves - 'Biografia' - 1847/1871 )

24/Novembro/2003:

"BOCA - III"

"Boca viçosa, de perfume a lírio,
Da límpida frescura da nevada,
Boca de pompa grega, purpureada,
Da majestade de um damasco assírio.

Boca para deleites e delírio
Da volúpia carnal e alucinada,
Boca de Arcanjo, tentadora e arqueada,
Tentando Arranjos na amplidão do Empíreo.

Boca de Ofélia morta sobre o lago,
Dentre a auréola de luz do sonho vago
E os faunos leves do luar inquietos ...

Estranha boca virginal, cheirosa,
Boca de mirra e incensos, milagrosa
Nos filtros e nos tóxicos secretos..."

( João da Cruz e Sousa - "Faróis" - Biografia - 1862/1898 )

25/Novembro/2003:

"UM GÊNIO QUE ERA UM SANTO"

"Em Coimbra, uma noite, uma noite macia de Abril ou Maio,
atravessando lentamente com as minhas Sebentas na algibeira o
Largo da Feira, avistei sobre as escadarias da Sé Nova,
romanticamente batidas pela lua, que n'esses tempos ainda era romantica,
um homem, de pé, que improvisava.

A sua face, a grenha densa e loira com lampejos fulvos,
a barba d'um ruivo mais escuro, frisada e aguda
à maneira syriaca, reluziam, aureoladas.
O braço inspirado mergulhava nas alturas como para as revolver.
A capa, apenas presa por uma ponta, rojava por traz,
largamente, negra nas lages brancas, em pregas d'imagem.
E, sentados nos degraus da Egreja, outros homens,
embuçados, sombras immoveis sobre as cantarias claras,
escutavam, em silencio e enlevo, como discipulos."

( Eça de Queirós - "Um Gênio que era um Santo" - 1845/1898 )
Trecho transcrito do documento original -Biblioteca Nacional de Portugal

26/Novembro/2003:

"NADA ALÉM "

"Nada além
Nada além de uma ilusão
Chega bem
E é demais para o meu coração
Acreditando em tudo que o amor
Mentindo sempre diz.

E vou vivendo assim feliz
Na ilusão de ser feliz
Se o amor
Só nos causa sofrimento e dor
É melhor
Bem melhor a ilusão do amor.

Eu não quero e não peço
Para o meu coração
Nada além de uma linda ilusão."

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele.
Um dia, a gente se encontra ..."

( Mário Lago - "MPBNet" - 1911 )

27/Novembro/2003:

"SOB O CHUVEIRO AMAR"

"Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?"

( Carlos Drummond de Andrade - "Soc. Poetas Mortos" - 1902/1987 )

28/Novembro/2003:

"SONETO DA SOLIDÃO"

"Alguém há de me ajudar a sorrir,
a compor uma canção. Soneto.
A Primeira vem e se põe a rir.
Nunca mais hei de pedir. Prometo.

A Segunda vem triste, a pedir
um pouco de carinho. Inverto.
Tum. Bate a porta sem se despedir.
Deixa algum pro cigarro. Aceito.

A Terceira vem de lenço na mão.
'Está seco', ela diz. Recuso.
Estou seco por dentro. É assim.

A Quarta aparece sem dó nem pão,
com uma útil rima em desuso.
'Essa não serve', digo. É o fim."

( Carlos Mundi - "Soc. Poetas Mortos" - 1968/1998 )

 

 

Voltar ao Atual

 

Portal Nosso São Paulo - www.nossosaopaulo.com.br