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NOVEMBRO de 2003 |
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03/Novembro/2003: "SONETO" "Baixel veloz, que ao úmido
elemento Enquanto vais cortando o salso
argento, Baixel, que vais fugindo despiedado Encontre-a eu gentil, mimosa e
bela! ( Gonçalves Dias - 'Biografia' - 1823/1864 ) 04/Novembro/2003: "CANÇÃO" "Pus o meu sonho num navio Minhas mãos ainda estão
molhadas O vento vem vindo de longe, Chorarei quanto for preciso, Depois, tudo estará perfeito; ( Cecília Meireles - 1901/1964 ) 05/Novembro/2003: "REDAÇÃO
DO CÓDIGO CIVIL" "Mas já é tempo de pôr termo a esta defesa. Não foi a meu prazer que a dilatei, como quem navegasse a cairo largo por mares amigos. Pouco me importava, a mim pessoalmente, ficar, ou não, em seguro das frechadas, que voavam sobre o meu nome de escritor. Mais do que este me interessa hoje a economia do meu tempo, reclamado por outros encargos. Por mais setas que contra mim embebessem no arco as paixões agastadas, enquanto só a minha individualidade perigasse, bem pouco se me dava. Já me habituei a não lhe acudir, em tais casos, por mais numeroso que seja, na acometida, o golpe de inimigos. Sei que a parte que de mim conhece o mundo, pouco me sobreviverá; e já por ela me não mato. Outros interesses, porém, estavam em jogo, uma vez que a comissão especial do Senado fizera seu, por voto unânime, o meu trabalho. Desde então era a sua responsabilidade coletiva o que punham a vulto as agressões endereçadas ao meu escrito. Desagravá-la me ficava sendo, portanto, um dever, com que eu não podia deixar de cumprir, sem incorrer em deserção e covardia. (...) (...) Foi o de que me desempenhei, começando por mostrar que nem por toque ofendera os nossos predecessores na colaboração do Código Civil, a Câmara, a sua comissão, o primeiro autor do projeto, os seus revisores extraparlamentares, o filólogo baiano, em quem os comissários da outra casa do Congresso delegaram às vezes do seu poder quanto à matéria gramatical, e discutindo em seguida, tirados ao claro estes pontos de cortesia elementar, com os contraditores que tão asperamente vinham renhir comigo sobre o assunto, as injustiças da sua censura. Se o logrei, dirão os que tiveram a paciência de me ler. Mas era mister a todo o risco tentá-lo; e não o podia fazer em palavras taxadas e avaras. Força era discorrer por largo, e esquadrinhar por miúdo, cerrar argumentos, multiplicar provas, e, atravessando rota batida o fadigosíssimo estirão, dar sucessivamente alcance aos erros, malignidades e sofismas, que mo dificultavam. Não creio que de tão dura prova conseguisse alguém sair à satisfação de todos. Como o alcançaria, pois, quem de tantas qualidades para tamanha porfia se sente desprovido? Ainda quando, porém, todas me faleçam, não me hão de achar menos a consciência própria e o respeito da alheia, o desejo do bom e o amor da verdade, a paixão do dever e o entusiasmo do trabalho. Muito mais longe me levariam eles, se a natureza deste papel mo consentisse. Mas, enquanto qualquer margem me restava de voluto, não deixei censura alguma por ventilar, embora fosse apertada a estreiteza de praça na tela, e as liberdades que ousei no excedê-la fossem grandes. Quem quer que possuir experiência ou noção destes estudos, avaliará o que neste caso me custaram, o que representa de esforço, tenacidade e capricho investigativo a soma de elementos críticos e documentos literários, aqui reunidos, à sôfrega, no espaço de alguns meses, por um trabalhador entregue exclusivamente a si mesmo e com a vida, a responsabilidade, a atenção divididas entre tantos outros empenhos. Valha-me esta consideração de escusa às faltas, que, a pesar meu, houverem escapado às insuficiências da minha aptidão para empresa tamanha. Seja quais forem elas, porém, não terei vendido barato ao inimigo a confiança dos meus colegas. E é quanto me basta por consolo e pago (...) (...) Não julgueis por considerações de pessoas, ou pelas do valor das quantias litigadas, negando as somas, que se pleiteiam, em razão da sua grandeza, ou escolhendo, entre as partes na lide, segundo a situação social delas, seu poderio, opulência e conspicuidade. Porque quanto mais armados estão de tais armas os poderosos, mais inclinados é de recear que sejam à extorsão contra os menos ajudados da fortuna; e, por outro lado, quanto maiores são os valores demandados e maior, portanto, a lesão argüida, mais grave iniqüidade será negar a reparação, que se demanda. Não vos mistureis com os togados, que contraíram a doença de achar sempre razão ao Estado, ao Governo, à Fazenda; por onde os condecora o povo com o título de "fazendeiros". Essa presunção de terem, de ordinário, razão contra o resto do mundo, nenhuma lei a reconhece à Fazenda, ao Governo, ou ao Estado. Antes, se admissível fosse aí qualquer presunção, havia de ser em sentido contrário; pois essas entidades são as mais irresponsáveis, as que mais abundam em meios de corromper, as que exercem as perseguições, administrativas, políticas e policiais, as que, demitindo funcionários indemissíveis, rasgando contratos solenes, consumando lesões de toda a ordem (por não serem os perpetradores de tais atentados os que os pagam), acumulam, continuamente, sobre o tesouro público terríveis responsabilidades." (Discurso na Faculdade de Direito de São Paulo, 1920. Editado em livro, 1921.) ( Ruy Barbosa de Oliveira - 1849/1923 ) 06/Novembro/2003: "A VERDADE É COMO
O SOL, "Muitas pessoas acreditam poder esconder a verdade por tempo indeterminado, crendo assim, livrarem-se de problemas imediatos ou futuros. São pessoas que perderam a fé na verdade por viverem num mundo onde predomina e prevalece a mentira. No entanto, a verdade não pode ser apagada, no máximo adiada, pois está sempre amparada em fatos e não no imaginário ou na opinião de quem quer que seja. A verdade, sobretudo, por mais que doa, sempre dói menos no presente que no futuro, quando a mentira já pode ter feito estragos irreversíveis, desdobrando-se em outras mentiras. A verdade ilumina a realidade e garante a estabilidade da VIDA, por isso pode ser adiada, jamais apagada!" ( Paulo R. Santos - Dia a Dia - Conceitos para Viver Melhor ) 07/Novembro/2003: "4º MOTIVO
DA ROSA" "Não te aflijas com
a pétala que voa: Rosas verá, só de
cinzas franzida, Eu deixo aroma até nos
meus espinhos E por perder-me é que vão
me lembrando, ( Cecília Meireles - 1901/1964 ) 10/Novembro/2003: "PASSAGEM
DAS HORAS" "Trago dentro do meu coração, ( Fernando Pessoa - 1888/1935 ) 11/Novembro/2003: "DESEJO" "Desejo
primeiro, que você ame,e que amando, também seja amado.
Desejo também que tenha
amigos, que mesmo maus e inconseqüentes, Desejo depois que você seja
útil, mas não insubstituível. Desejo que você sendo jovem
não amadureça depressa demais, Desejo, por sinal, que você
seja triste; Desejo ainda que você afague
um gato, Desejo outrossim, que você
tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. Desejo por fim que você
sendo um homem, tenha uma boa mulher, ( Víctor Hugo - 1802/1885 - veja aqui sua biografia e outros poemas ) 12/Novembro/2003: "ANTE O CÉU ESTRELADO" "Senhor: Concede-nos, Pai, ( Chico Xavier - pela pena espiritual de Emmanuel - 1910/2002 ) 13/Novembro/2003: "VAZIO" "A chuva há de cobrir
friamente de branco os morros longes, Depois, há de vir numa
carícia gelada, afagar a cidade quieta, E molhará o recolhimento
místico das grandes árvores. Depois, sob a poeira da chuva
fina, As árvores lá fora estão pingando!" ( Bernardo Élis - Soc. dos Poetas Mortos - 1915/1997 ) 14/Novembro/2003: "PALAVRAS A UM GENERAL" "General, teu tanque é
um carro forte. General, teu bombardeiro é
poderoso. General, o homem é muito
útil. ( Bertolt Brecht - Soc. dos Poetas Mortos - 1898/1956 ) 17/Novembro/2003: "A EXCEÇÃO E A REGRA" "Estranhem o que não
for estranho. ( Bertolt Brecht - Soc. dos Poetas Mortos - 1898/1956 ) 18/Novembro/2003: "O SUSPIRO" "Voai, brandos meninos tentadores, Dizei-lhe que nasceu dos dissabores, Se o fado para mim sempre mesquinho, Quando um deles soltar na esfera
vasta, ( Bocage 'Manuel Maria l'Hedoux de Barbosa' - Soc. dos Poetas Mortos - 1765/1805 ) 19/Novembro/2003: "ANJO CAÍDO" "Na flor da vida, formosa,} Ergueu-se aos clarões suaves Mal haja o fatal destino, Hoje és bela; mas teu rosto Hoje nem sol, nem estrela, ( Bulhão Pato - Soc. dos Poetas Mortos - 1829/1912 ) 20/Novembro/2003: "POEMA" "Trago comigo um retrato ( Cacaso - Soc. dos Poetas Mortos - 1944/1987 ) 21/Novembro/2003: "AMAR E SER AMADO" "Amar e ser amado! Com que
anelo ( Castro Alves - 'Biografia' - 1847/1871 ) 24/Novembro/2003: "BOCA - III" "Boca viçosa, de perfume
a lírio, Boca para deleites e delírio Boca de Ofélia morta sobre
o lago, Estranha boca virginal, cheirosa, ( João da Cruz e Sousa - "Faróis" - Biografia - 1862/1898 ) 25/Novembro/2003: "UM GÊNIO QUE ERA UM SANTO" "Em Coimbra, uma noite, uma
noite macia de Abril ou Maio, A sua face, a grenha densa e loira
com lampejos fulvos, ( Eça de Queirós
- "Um Gênio que era um Santo" -
1845/1898 ) 26/Novembro/2003: "NADA ALÉM " "Nada além E vou vivendo assim feliz Eu não quero e não
peço "Fiz um acordo de coexistência
pacífica com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele.
( Mário Lago - "MPBNet" - 1911 ) 27/Novembro/2003: "SOB O CHUVEIRO AMAR" "Sob o chuveiro amar, sabão
e beijos, ( Carlos Drummond de Andrade - "Soc. Poetas Mortos" - 1902/1987 ) 28/Novembro/2003: "SONETO DA SOLIDÃO" "Alguém há
de me ajudar a sorrir, A Segunda vem triste, a pedir A Terceira vem de lenço
na mão. A Quarta aparece sem dó
nem pão, ( Carlos Mundi - "Soc. Poetas Mortos" - 1968/1998 )
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