BREVE HISTÓRIA
DE CARAPICUIBA
A Origem e Significado
da palavra CARAPICUIBA:
Existem várias versões sobre
o significado da palavra CARAPICUÍBA: Pau Podre, aquele
que se reúne em poços, cascudo, escamose, etc.
Mas segundo informou o Professor Carlos Drumond, chefe do Departamento
de Lingüística e Línguas Orientais, titular
da cadeira de Línguas Indígenas do Brasil, da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
de São Paulo-USP, a palavra vem de cara + iba ou seja:
cará ou acará: peixe; picú ou pucú:
comprido; iba: ruim, que não serve para ser comido.
Assim, CARAPICUÍBA é o nome do peixe: "Cará
comprido" que não pode servir para ser comido, por
ser venenoso como o baiacu. Existe um peixe do mar chamado carapicu
e vários escritores fazem referências a ele, mas
CARAPICUÍBA fica muito longe do mar e depois de haver
lido o que escreveu Silveira Bueno em seu "Vocabulário
Tupi-Guarani-Português", muitos chegaram à
conclusão de que realmente existe um peixe do rio chamado
cará ou "papa-terra", porém cará,
neste caso, significa planta e é mais conhecido dos indígenas
do norte.
Também existe outra explicação, que é
a seguinte: "CARAPICUÍBA" é topônimo
tomado de empréstimo ao Ribeirão homônimo
que corta as terras do município. Segundo estudiosos,
é originário da língua indígena
e é corruptela de "Quar-I-Picui-Bae", ou seja
"aquele que se resolve em poços".
A História da Cidade:
A história de CARAPICUÍBA remonta
a uma antiga aldeia de índios, tendo vivido momentos
importantes dentro da história do Estado de São
Paulo. Foi uma das doze Aldeias fundadas pelo Padre José
de Anchieta (por volta de 1580),
para preservar a educação e a moralização
dos silvícolas da presença do homem branco.
Pertenceu a Santana do Parnaíba, que foi elevada a município
em 1625, sendo que esta, mais tarde, passou a pertencer a Barueri.
Caminho obrigatório das bandeiras, CARAPICUÍBA
foi citada na história. Localizada próxima às
terras de Afonso Sardinha e das reservas indígenas, que
Jerônimo Leitão em 1580 determinou que servissem
de abrigo aos donos do solo: os índios. Foi por isso
que Afonso Sardinha, dono de uma
sesmaria de seis léguas de quadra, doada pelo Rei de
Portugal, ali chegando, montou a sede de sua fazenda e resolveu
manter um posto na Aldeia de CARAPICUÍBA, com o objetivo
de aproveitar a mão-de-obra indígena. Assim, deu
início à construção de uma capela,
por volta de 1590. Porém, frustado em seus intentos,
resolveu voltar para a Europa.
Em 1610, havendo já a Capela,
a Aldeia sofria os primeiros impactos, em virtude de caso criado
entre as autoridades e o povo indígena, este, percebendo
a falsidade e os maus propósitos dos brancos, reagiram
violentamente, não se sujeitando às manobras,
embrenhando-se cada vez mais pelo sertão.
De 1610 a 1670, a Aldeia passou
por uma fase de estagnação, servindo de ponto
de encontro entre clero e autoridades, os quais procuravam traçar
normas para a ocupação das terras e o aproveitamento
do trabalho indígena. O marasmo continuaria por mais
um século.
Em 1770 porém, o progresso
começou a se fazer sentir. O homem principiava a alterar
a paisagem que permanecera inalterada durante séculos.
A partir de Santo Amaro, Itapecerica, Embú e Cotia, os
caminhos se alargavam, casas apareciam entre árvores
ou erguiam-se em meio ao capim. Já havia fazendas, carregadores
para as tropas e atendendo à demanda do colono que se
vinculava à terra, abriam-se armazéns.
Paralelamente, esse progresso onde sempre se centralizara a
vida social e política de CARAPICUÍBA, tomou aspecto
diverso e particular.
À volta da capela inicial, malocas foram sendo construídas
para abrigar aqueles que podem ser chamados de ancestrais dos
homens empresários de espetáculos populares. "Donos"
das constantes festas ali realizadas, organizavam e exploravam
o comércio, fazendo um trabalho de tal ordem que, nesses
dois séculos, a Aldeia se transformou no maior
centro de Folclore do Estado. Berço de uma série
de danças típicas, podemos citar, uma das mais
importantes e conhecidas a "Dança de Santa Cruz",
também chamada de Sarabaquê.
Por volta de 1854, em 1º
de agosto, o Barão de Iguape registrou, na paróquia
de Cotia, uma fazenda que abrangia grande parte da atual CARAPICUÍBA
e Quitaúna, com área de 754 alqueires.
Praticamente CARAPICUÍBA pouco se desenvolveu até
a chegada dos trilhos da velha estrada
de ferro Sorocabana. É bem verdade que, situando-se
no caminho de São Paulo para Itú, foi surgindo,
de modo precário, uma ou outra habitação
longe da Aldeia, mais próxima do Rio Tietê. As
cidades, em sua maioria, têm seu desenvolvimento intimamente
ligado à ferrovia, rodovia ou transporte fluvial. CARAPICUÍBA
não é exceção, já que a Estrada
de Ferro Sorocabana emprestou grandiosa colaboração
no progresso da cidade. O fundador da Estrada de Ferro Sorocabana
(EFS), foi o húngaro Luiz Matheus
Maylasky.
Plantador de algodão em Sorocaba, arguto e bem informado,
percebeu que a agricultura, indústria e comércio
eram coisas que só davam resultados positivos, se tratados
conjuntamente e passou então a ser industrial de tecidos
e pioneiro da exportação de fibra para a Inglaterra.
Como exportar e transportar são duas coisas ligadas entre
si, Maylasky atinou com a criação de uma via para
escoamento das produções da região sorocabana.
Nessa época se reativavam as atividades da fundição
de ferro de Ipanema (hoje Varnhagem), 20 quilômetros adiante
de Sorocaba. Sua idéia foi então construir uma
Estrada de Ferro que, partindo de Ipanema, atingiria São
Paulo, passando por São Roque. Reuniu, então,
capitalistas de Sorocaba e fundou a Companhia Sorocabana (1870).
O leito férreo foi inaugurado em 10 de agosto de 1875,
e chegava à Capital, provindo do interior, ao contrário
da maioria das ferrovias, que partem da Capital, rumo ao Interior.
Luiz Matheus Maylasky dirigiu a Estrada de Ferro até
1880, quando foi sucedido por Francisco de Paula Mayrink. Maylasky
retirou-se então para Porto Vitória (Espírito
Santo), onde fundou outra Estrada de Ferro (Sapucaí),
e em 1891 foi condecorado pelo rei D. Carlos de Portugal, com
o título de Visconde de Sapucaí. A Sorocabana
expandiu-se rumo ao interior, transformando-se numa verdadeira
via dorsal de transporte de passageiros e cargas. Nas pesquisas
encetadas junto à biblioteca da Sorocabana revelou-se
que no mês de Novembro de 1921,
foi implantado um embarcadouro em CARAPICUÍBA, mais ou
menos no km 22 do leito férreo, e no ano de 1926
foi construída a Estação que denominou-se
SYLVIANIA, portanto a estação ferroviária,
por alguns anos, não se chamou CARAPICUÍBA, mas
sim Sylviania, porque naquela época a vila já
despontava com tal nome. Essa estação dista da
Estação Júlio Prestes 22 quilômetros.
Com a Estação foram construídos alguns
desvios e um desembarcadouro de gado destinado ao abate no km
21. O gado era desembarcado na Estação de CARAPICUÍBA
e seguia para descanso no Campo da Boiada, onde hoje está
a COHAB. Daí seguia para o abate no Matadouro do km 21.
Após a construção do matadouro e das olarias,
mais antigos, os compradores dos lotes da Vila Sylviania iam
erguendo suas casinhas. Nos altos dos morros apareceram as igrejas
e pouco a pouco CARAPICUÍBA foi tomando ares de cidade.
A construção da estação de trem
pode ser considerada a base da fundação deste
novo núcleo habitacional, edificado a mais ou menos quatro
quilômetros de distância do velho núcleo
da aldeia dos índios. Muitos ferroviários da EFS
e ex-funcionários fixaram residência em CARAPICUÍBA
e aqui colaboraram para o progresso da cidade, quer constituindo
lares honrados, estudando os filhos e entregando à sociedade
descendentes valorosos, quer ingressando na política,
participando ativamente dos problemas locais.
Com o falecimento do barão, a Fazenda CARAPICUÍBA
coube, como herança à filha, Dna. Veridiana, casada
com Martinho da Silva Prado e passou, por várias transações
a outros proprietários, até que em 1903, foi vendida
a Delfino Cerqueira que, em 1922,
contratou a Cia. Construtora Paulista, para executar o loteamento
e arruamento de parte da gleba.
Mais tarde, Delfino Cerqueira contratou a firma Wainsten &
Cia, para levantamento de outra parte da área. Como naquele
tempo os governadores de Estado tinham o título de presidente,
surgiu assim a Vila Sylviania (daí
o primeiro nome da estação da EFS), em homenagem
ao advogado da Light, Sr. Sylvio de Campos, irmão do
presidente. Consta, ainda, que em homenagem ao Dr.
Sylvio de Campos as ruas centrais tiveram nomes somente
de mulheres, todas parentes e conhecidas dele (Fernanda, Judith,
Sonia Maria, Sandra Maria, Tâmara, Maria Helena, Ondina,
Míriam, Celeste, etc.). No ano de 1928 o Sr. Alexandre
Wainstein conheceu o Sr. Basílio (Wlase) Komaroff, ucraniano,
que, apesar de jovem, era dotado de grande força de vontade,
possuidor de conhecimentos de topografia e agrimensura. Basílio
passou então a ser o topógrafo responsável
pela demarcação dos lotes e glebas da Vila Sylviania.
A fim de facilitar seu trabalho e estando casado com a estoniana
Martha Komaroff, que conheceu no Brasil, Basílio transferiu
sua residência do Bosque da Saúde em São
Paulo para a vila que despontava, indo residir em casebre cedido
pela firma. Em 1928 aqui vieram e ficaram. A prole dos Komaroff
era composta de 4 filhos: Valentim, Verônica, Hellen Komaroff
Martini, casada com Pietro Martini, e Alberto Komaroff, casado
com Maria Helena Souza Komaroff. Os trabalhos de Basílio
não se limitaram à demarcação de
lotes. Outrora morador em São Paulo e possuindo amizades
no seio dos imigrantes de sua terra natal, incentivou seus conterrâneos
a adquirir lotes e glebas na vila em formação,
daí porque fixaram-se aqui russos,
poloneses, lituanos, estonianos, ucranianos húngaros.
Basílio conhecia a vila como a palma de sua mão.
Demarcava os lotes com rara maestria, tanto assim, que a sucessora
da Cia. Construtora Paulista, Sociedade Terrenos de Osasco Ltda.
o manteve nessa função, nascendo entre ele e o
Dr. Inocêncio Seráfico, uma grande amizade. Basílio
Komaroff foi então, além de pioneiro, o
responsável direto pela fixação da colônia
européia em CARAPICUÍBA. Auxiliados pelo corretor
Janos Ballog, vieram então os Zahotei, Zarakausky, Terrav,
Antzuk, Bulbow, Borowik, Eituts, Bosniac, Curalov, Gebauer,
Kasakov, Parpulov, Kondrat, Kopchak, Klochko, Uchetsky, Bajic,
Belotserkovets, Pelepko, Sokalschi, Zdanowsky, Vercholeak e
tantos outros.
Voltando ao clã Komaroff, pode-se afirmar que sua filha
Verônica foi a pioneira do jornalismo na vila, fundando
o jornal "O Municipalista".
O cel. Delfino Cerqueira arrendou parte de suas terras, margeando
o rio Tietê, ao Dr. João Zeferino Ferreira Velloso,
para exploração de "Porto
de Areia". É aqui que o sinuoso, misterioso
e lendário rio entra no ciclo desenvolvimentista da vila
em formação. O outrora rio Anhembi que atraiu
a atenção de muitos viajantes, desde a subida
de Martim Afonso de Souza, em 1532 pela trilha dos Tupis, atraiu
também a atenção do Dr. João Velloso,
que pesquisou sua várzea e descobriu um imenso lençol
de areia. Fechou contrato de arrendamento com Cel. Delfino Cerqueira,
para exploração, a nível comercial, do
subsolo.
A estrada de ferro Sorocabana concedeu uma cancela para facilitar
o embarque da areia para São Paulo. Tendo em vista a
qualidade da areia retirada e a potencialidade dos "bancos"
encontrados, a extração era negócio de
lucro certo, entretanto, as crateras deixadas no solo, aborreceram
Delfino que resolveu impedir, com violência, a sua livre
exploração. Decorridos mais alguns anos, o Dr.
João Zeferino Ferreira Velloso Filho promoveu ação
executiva contra Delfino Cerqueira e sua mulher e em 1936 parte
das terras foi arrematada pela Sociedade de Terrenos de Osasco
Ltda., empresa que fazia compra e venda de materiais de construção
e compra e venda de terrenos, composta pelos Drs. João
Zeferino Ferreira Velloso Filho e Inocêncio Seráfico
de Assis Carvalho. Em 1928 CARAPICUÍBA
já era distrito policial. Na década de 30, os
pioneiros já acreditavam no povoado que nascia, porque
a região possuía clima excelente e terras ótimas
para a cultura de batatinhas, cereais,
legumes e hortaliças, onde se cultivavam também
o castanheiro europeu e amoreira.
Nesta época, cerca de 60 famílias japonesas exploravam
parte das terras, a título de arrendamento, cooperadas
na atualmente extinta Cooperativa Agrícola de Cotia.
O pioneirismo japonês em CARAPICUÍBA
foi marcado pelas famílias Wada, Ishimaru, Morioka, Iwakura,
Tamai, Hanassumi, Massazumi, Okada, Kakizaki, Ueta, Sakamoto,
Magarifuchi, Arakawa, Tani, Kawazaki Kamyzawa, Guentawa, Iashida,
Kunishi, Satomi, Myama, Akyoshi, Yano, Nishizaki, Morizawa,
Yamamoto e outros.
Muitos participaram da campanha emancipacionista.
Vale destacar que o primeiro grupo escolar da cidade, localizado
no centro da cidade, possui o nome de um dos ex-diretores da
Sorocabana: ENGENHEIRO MÁRIO SALLES
SOUTO, que ao contrário do que muitos pensam,
não era professor mas sim o engenheiro que dirigiu a
ferrovia de 1936 a 1938, e foi durante a sua gestão que
foram inauguradas as famosas composições "Ouro
Verde" e "Ouro Branco". Outro vulto que emprestou
seu nome à cidade, foi o engenheiro Acrisio
Paes Cruz que também dirigiu a ferrovia por duas
vezes(1938/1940 - 1941/1943). Uma das ruas possui seu nome.
Eis, portanto, em rápido relato, a participação
da ferrovia e dos ferroviários na história da
cidade.
Também na década de 30, o desenvolvimento de
uma cidade estava diretamente ligado às peculiaridades
locais, tais como: clima, facilidade de acesso, meios de transporte,
incentivos ao comércio e indústria, etc. CARAPICUÍBA
não foi exceção. No que se refere aos meios
de transportes, o fato que mais auxiliou a explosiva fixação
populacional, foi a existência de via férrea (EFS),
com trens de passageiros em vários horários durante
todo o dia, substituídos pelos "Subúrbios".
Sem dúvida, estes últimos foram o estímulo
a que os compradores de lotes preferissem CARAPICUÍBA.
Entretanto, serviam os subúrbios para o transporte em
massa até a Estação Júlio Prestes
e havia necessidade de transporte alternativo que levasse os
moradores até São Paulo, por outro itinerário.
Foi então que o Sr. Antônio Guerra, homem de grande
visão empresarial, colocou à disposição
da população de Barueri, uma linha
de ônibus que, passando por CARAPICUÍBA
e Osasco ia ter ponto final em Pinheiros. Isso deu-se no ano
de 1930.
Eram apenas dois ônibus que faziam dois horários:
8:30h e 14h, sendo que um deles era reserva. Os mais antigos
não se esquecem do motorista Gentil
que a todos conhecia e a todos tratava com educação
e urbanidade. É fato comprovado que Gentil não
obedecia os locais de parada de ônibus, a despeito de
ajudar o passageiro, tornando seu trajeto mais curto. A "jardineira"
de seis janelas chegava buzinando na vila. Gentil a dirigia
com maestria. Esse era o transporte coletivo inter-municipal.
Em termos de transporte municipal, o pioneiro foi o Sr. José
Antônio Bellato, proprietário da Empresa
de ônibus Vila Dirce que em 1951
fazia o itinerário Vila Dirce a Estação
de CARAPICUÍBA, passando pela Avenida Inocêncio
Seráfico, embora nessa ocasião a Vila Dirce pertencesse
à Cotia. A estrada era ruim e estreita e os dois ônibus
mal podiam passar por ela. A seu pedido, a firma loteadora de
Vila Dirce, com máquinas próprias alargou a Avenida,
antiga Estrada da Aldeia, o que possibilitou maior vazão
e facilidade de tráfego. Mais recentemente, instalou-se
na cidade o Sr. Giuseppe Napolitano com os famosos
ônibus "poeirinha" sucedido por respeitável
empresa que hoje opera no ramo. As peruas de lotação,
que surgiram quase na mesma época, foram trocadas por
micro-ônibus e mais empresas que servem a população
nos dias de hoje.
Na década de 30 já funcionava no km 25 a Sociedade
Anônima Indústrias Kenworthy sucedida pela Fiação
Sul Americana. Entretanto aquela foi a primeira indústria
de grande porte e não se situava em CARAPICUÍBA,
pois, o Rio Cotia e o Córrego Cadaval separavam os dois
vilarejos. Hoje em decorrência da criação
do Município, Barueri perdeu a extensão territorial
e a Vila Lourdes, incluída a Vila Sul Americana, pertence
ao Município de CARAPICUÍBA. A Fiação
Sul Americana marcou época na cidade, Francisco e Pedro
Fornasaro foram seus primeiros proprietários. Empregou
muita gente. Inúmeras famílias passaram a integrar
o seu quadro de trabalho. Mário Camargo da Silveira gerenciou
a empresa por longos anos, de onde saiu somente aposentado.
A empresa, embora em ritmo menos acelerado, até hoje
vem funcionando e empregando o povo carapicuibano. Outra empresa
pioneira na cidade foi a Cerâmica
de Pignatari & Pazini. Antônio Pignatari e
Virgínio Pazini, sabedores das potencialidades da região
no que se refere à argila, associaram-se, e na década
de 40 iniciaram as atividades da cerâmica que funcionou
onde hoje é o Terminal Rodoferroviário. A firma
progrediu e chegou a empregar mais de 300 funcionários,
o que para a época era fato marcante. No ano de 1948
a Cerâmica foi vendida para Konrado Peleski que a transferiu
para Pirajibu, lugarejo próximo a Brigadeiro Tobias.
As instalações e o prédio serviram para
o funcionamento da INCA (Indústria
Nacional de Couros e Afins), que, igualmente, empregava muita
gente, mas encerrou suas atividades por volta do ano de 1968.
Muita gente ainda se lembra das velhas instalações
da INCA que tomava a quadra inteira, fechada e murada, com majestosa
chaminé, mas que cedeu lugar ao progresso, desapropriada
por utilidade pública a fim de se construir o terminal
rodoviário da cidade. Antônio Pignatari e Virgínio
Pazini, já falecidos, foram grandes entusiastas do desenvolvimento
da cidade. Pignatari adquiriu três glebas e as loteou:
Jardim Pignatari - zona central onde hoje está a zona
bancária, Prefeitura; Jardim Santo Antônio, entre
as ruas Antônio Roberto e Sandra Maria; e Jardim Novo
Horizonte, situado um pouco acima do local onde se situa hoje
a Secretaria de Obras. Virgínio Pazini, nome de rua,
deixou sua história registrada por sua filha Ofhelia
Pasini, a primeira professora da cidade que, recém-formada,
veio lecionar na primeira escola rural, em casa até hoje
existente na Avenida Míriam, altura do nº 380. A
maior avenida de CARAPICUÍBA deve seu nome ao
Dr. Inocêncio Seráfico,
homem de raras virtudes. Todos os velhos moradores da cidade
são unânimes em reconhecer suas qualidades. Homem
bom e atencioso, jamais mandou rescindir algum contrato por
atraso nos pagamentos e sabia esperar pacientemente o comprador
inadimplente. Comandava a empresa loteadora do escritório
central em São Paulo, mas possuía aqui em CARAPICUÍBA
uma casa denominada "Casa de Administração"
que ficava situada em frente à Avenida Rui Barbosa, em
local onde hoje está construído o Banco HSBC.
Nesse escritório, desde ainda jovem, trabalhou Mário
Gomes de Souza, sobrinho do Dr. Seráfico. O escritório
possuía o único telefone ligado na vila, de número
16, através de extensão da linha provinda de Osasco.
Posteriormente o telefone foi transferido para a venda do Zamella
(esquina da travessa que hoje leva seu nome, com a Av. Rui Barbosa
- no local onde hoje está o prédio das Casas Pernambucanas).
A venda do Antônio Zamella
foi uma das primeiras na vila. Era muito freqüentada pelos
viajantes que transitavam pela Estrada de Rodagem São
Paulo - Mato Grosso, depois Rodovia Marechal Rondon e hoje Av.
Rui Barbosa. Esse telefone foi de grande utilidade nas comunicações
dos moradores da Vila. Esteve instalado e em funcionamento até
por volta do ano de 1968 no mesmo local, onde existiu o bar
e Restaurante do Valdomiro. Nessa época, a Av. Rui Barbosa,
com características de estrada da rodagem era a passagem
obrigatória daqueles que se dirigiam a Pirapora, Itú
e outras cidades interioranas. Inexistia o desvio que margeia
a Estrada de ferro (hoje Av. Deputado Emílio Carlos).
Este foi aberto por volta do ano de 1952, pelo DER, com a finalidade
de encurtar o trajeto, pois o logradouro público, quando
atingia a Praça Toufic Julian, antiga Praça Vitória,
virava à esquerda, tomando os segmentos que hoje delineiam
a Av. Rui Barbosa.
"A Casa de Administração"
possuía água canalizada de uma lagoa existente
no local entre as ruas Antônio Roberto e Av. Tâmara
cuja canalização atingia a sede através
de uma caixa d'água com bomba de recalque. Essa lagoa
desapareceu por aterramento e deu lugar aos prédios comerciais
e residenciais dos dias de hoje. Essa lagoa servia também,
para bebedouro a animais de montaria que se dirigiam a Pirapora
do Bom Jesus. O local possui hoje ativo comércio, e é
símbolo de um passado recente, que ficou tão somente
na memória dos moradores e viajantes da época.
Por volta de 1940, além da venda do Zamella, existia
também o armazém de Rachides
Eid, situado de frente para a Praça da Vitória,
atual Praça Toufic Julian, esquina com avenida Celeste,
lado direito de quem sobe esta rua, vendido posteriormente a
seu cunhado Toufic Julian, casado
com Helena Eid. Toufic, libanez de nascimento mas radicado no
Brasil há bastante tempo, já havia sido "mascate"
pelo interior do Estado, razão porque não é
difícil imaginar o tino comercial que se abatia sobre
sua pessoa. Provinha de Itapevi, onde já tinha um estabelecimento
de secos e molhados. Trouxe sangue novo à venda de Rachides,
estocando-o ainda mais e aumentando a sua freguesia, parte da
qual trouxe de Itapevi, outra parte era composta pelos empregados
da Fazenda Tamboré (Fazenda do Conde) e a outra parte,
propriamente pelos moradores da vila. Foi no armazém
de Toufic que funcionou a primeira caixa
postal e para o qual também era endereçada
a correspondência da cidade. Foi ele, então, de
fato o primeiro agente postal que a todos atendia na cidade.
Homenagens lhe foram prestadas em vida, outorgando-lhe o título
de CIDADÃO CARAPICUÍBANO e "post mortem",
dando seu nome a praça central da Cidade. Teve também,
seu nome gravado no Colégio Estadual, do centro da cidade.
O Dr. Benedito de Lima Tucunduva
foi outro pioneiro que participou ativamente da vida social
e política da cidade. Provindo de Santana de Parnaíba,
onde tinha consultório dentário, adquiriu um terreno
na Avenida Maria Helena e ali construiu sua casa. Inexistia
luz elétrica domiciliar e graças à sua
amizade com diretores da Light Eletricidade, conseguiu uma extensão
de linha elétrica até sua casa, de onde se espalhava
para outras casas vizinhas. Depois que aposentou-se do serviço
dentário da Prefeitura de São Paulo dedicou-se
à política, tendo sido Vereador em Santana de
Parnaíba e Barueri. Otávio
de Almeida Campos foi o primeiro boticário da
cidade. Sua farmácia foi instalada na Av. Inocêncio
Seráfico, esquina com Av. Maria Helena (Farmácia
São João). Oscar Francisco
Vieira Bueno instalou e pôs em funcionamento a
primeira padaria, situada na Av. Míriam. João
Antônio Braz veio trabalhar para o Dr. Seráfico.
Construiu muitas casas, tornando-se posteriormente empreiteiro
de obras e trabalhou por conta própria. Ensinou a profissão
aos filhos Oreste, Benoir e João Braz Filho. Era patriarca
de uma das mais numerosas famílias carapicuibanas aqui
radicadas há longos anos. Matilde, uma de suas filhas
casou-se com Antônio Faustino dos Santos, Prefeito por
dois mandatos. Ataíde João Monteiro, seu neto,
é político atuante há mais de uma década.
Nelson Neves da Fonseca, também
construtor, aqui chegou no ano de 1940. Edificou muitos prédios
na vila em formação, inclusive o prédio
do cinema, atual Câmara dos Vereadores. Nelson Neves é
pai do ex-Prefeito Municipal, Dr. Luiz Carlos Neves, primeiro
Prefeito nascido em CARAPICUÍBA. Samuel
de Almeida foi proprietário da primeira vidraçaria,
que na qualidade de secretário da comissão de
construção da Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida,
colocou todos os vidros da Matriz. Em 1952 foi criada a Paróquia
Nossa Senhora Aparecida (conhecida atualmente como igreja
amarela). O número de moradores continuava aumentando
pouco a pouco.
Sakae Ishimaru arrendou um alqueire
de terras do Cel. Delfino Cerqueira e com sua família
trabalhavam na terra pelos lados da rua da Pedreira. Depois,
instalaram-se como arrendatários no triângulo formado
pela Av. Rui Barbosa e Rua Raposo Tavares, dando fundos para
o leito férreo da Estrada de Ferro Sorocabana. Seu comércio
cedeu lugar à primeira e única peixaria da cidade.
João Ovidio da Silva, mineiro
provindo de São João de Chapada, povoado próximo
a Diamantina, Minas Gerais, é também o patriarca
de uma das mais numerosas famílias carapicuibanas. O
período de pós-guerra fez diminuir e até
extinguir alguns garimpos daquela região mineira, iniciando-se
o êxodo para São Paulo. É fato interessante
constatar que segundo a "História Mineira",
Iguape, cidade do litoral paulista, há mais de um século
foi região de mineração e, fracassando
o garimpo, muitos paulistas rumaram para Diamantina, região
promissora de mineração. Meio século depois,
o êxodo foi no sentido contrário: a volta para
São Paulo. Fixando-se em CARAPICUÍBA, João
Ovidio foi o principal responsável pela vinda dos mineiros
nestas paragens, pois, seus conterrâneos, chegando em
São Paulo, naturalmente vinham primeiro encontrar-se
com ele. José Maria da Costa foi um dos que vieram ter
aqui através de João Ovidio. Vieram ele e mais
nove irmãos, todos hoje com imensa descendência
na cidade. Igualmente veio Osório Carlos de Araújo
Junior, provindo da mesma região. João Ovidio
foi então o "pião" de convergência
da família mineira nesta terra. Aqui viveu e aqui morreu.
Era também conhecido pelo apelido que ganhara no garimpo:
"Tamerão". Uma das filhas de João Ovidio
(Maria Valentina) casou-se com Benjamim Roberto Cruz, irmão
de Manoel Raimundo da Cruz, fundador e principal incentivador
da Banda de Música, que
hoje leva o seu nome. A família Cruz é numerosa
e vale ressaltar que os mineiros que aqui chegaram, trouxeram
grande colaboração no desenvolvimento da cidade,
quer introduzindo seus usos e costumes, quer pela valiosa mão
de obra, mineiramente silenciosa...
Os descendentes de "Tamerão" deram inestimável
colaboração na construção da Igreja
Matriz de Nossa Senhora Aparecida e permanecem até
hoje arraigados na cidade, embora até as autoridades
religiosas de agora desconheçam quão grande colaboração
eles emprestaram nos primeiros tempos da nova paróquia.
A Corporação Musical de
CARAPICUÍBA foi fundada por Manoel Raimundo da
Cruz, no ano de 1951. O mineiro Manoel Raimundo chegara das
Minas Gerais, no ano de 1947 e, passou a trabalhar no Matadouro
do Km 21. Já havia pertencido à Banda Santa Cecília
em São João da Chapada (MG). Juntamente com seu
irmão Benjamim e mais alguns músicos de então
(José Aristeu, José Ferreira, João Zacarias,
Paulo da Luz, Benedito Sanfoneiro, Geraldo e José Deus
Leite), e sob a regência do Sargento José, de Quitaúna,
e com instrumentos próprios, foram iniciados os ensaios,
constituindo-se a primeira diretoria sob a presidência
de Salim Gebara e tesouraria de João Acácio de
Almeida. Já no dia 2 de junho de
1951, a Banda fez sua primeira apresentação
pública defronte à residência de Salim
Gebara, na Avenida Celeste, esquina com Avenida Miriam.
No entanto, a dificuldade na aquisição de instrumentos
era muito grande e a Banda somente se impulsionou em 1957,
quando João Acácio de Almeida, eleito Prefeito
de Barueri, cedeu a instrumentação da Banda de
Barueri, que estava desativada. Desde então a Banda Musical
passou a ter vida própria e a participar dos eventos
políticos, artísticos e culturais do Município
e Região. Manoel Raimundo da Cruz faleceu em 17 de dezembro
de 1964, mas deixou a corporação musical, que
hoje leva o seu nome. Tendo se desligado politicamente de Barueri,
a instrumentação da Banda, que estava em CARAPICUÍBA
precisou ser devolvida ao Município sede, aí então
a Banda parou. Mas no ano de 1965, Carmine Matheus Xavier, Nelson
Izidoro, Murilo Vasconcellos, Luiz Juliano, João Tozeli,
José Carlos Camargo, Laerte Cearense, Luiz Presecatan
e muitos outros, reuniram-se e decidiram reativar a Banda, iniciando-se
campanha de sócios e a formação de diretoria.
A Banda já foi orgulho de CARAPICUÍBA, porque
se apresentava não só na cidade mas era convidada
a se apresentar em cidades vizinhas e até distantes.
Benjamim Roberto Cruz, irmão de Manoel Raimundo esteve
sempre presente em tudo o que se relacionou com a corporação,
tendo sido também presidente da diretoria.
Em 1957 João Acácio de
Almeida foi eleito prefeito de Barueri e de 1961 a 1965
outro cidadão de CARAPICUÍBA - Carlos
Capriotti - estava a frente daquele executivo.
Durante este penúltimo período se desenvolveu
a batalha pela emancipação
de CARAPICUÍBA, que até então era
incorporada a Santana de Parnaíba e Barueri, tendo, afinal,
conquistado em fevereiro de 1964, pela
Lei nº 8.092, sua emancipação, tornando-se
Município em 26 de março
de 1965.
Os moradores levantaram um pequeno monumento em homenagem aos
emancipadores, o qual encontra-se à Av. Miriam, no Centro
de CARAPICUÍBA. É modesto, mas significativo.
É um pleito de gratidão pelos homens que lutaram
pela autonomia.
Não podemos nos esquecer de outros
nomes importantes para a história e o desenvolvimento
de CARAPICUÍBA. São eles: Sebastião Marcelino,
João Prestuga, Joaquim Lopes Carilho, Guerino Bonati,
João Baptista Dantas, Balduino Antônio Fortes,
Attilio Sagni, Escholastica Elias, Theodoro Elias, Ernesto Lemos,
Antônio José, Antônio Zamella, Domingos João
Marian, Orlando Bianchi, Marie Jeanne Larra, José Raposo
de Medeiros, Joaquim das Neves, Francisco Richter, Martha Witt,
João Martins, Francisco Debeus, Alberto Reichert, Ercília
e Carmelina Moraes, Rene Somelli. Fidelis Botelho, J. Teixeira
Filho, Albino Eugênio de Moraes, Risaburo Sigaharakiukilo
Kikuti, Dr. José Alves Feitoza e Albano de Moraes, as
famílias Julian, Eid e Salomão.
O Aniversário de Carapicuiba é
comemorado em DD/MMM.
Fonte: PM CARAPICUIBA