24/Junho/2010:
TEOREMA ESFINGE
Projeto UNESCO - Como Vencer a Pobreza e a Desigualdade
"Em que intricada matemática
estaria o teorema ou a solução para o problema?
É quase certo que não esteja no poderio exacerbado das
máquinas, tampouco no lúcido
raciocínio dos gênios da humanidade."
TEOREMA ESFINGE
" Enquanto o sol ladrilha o dia
com esfuziante balé de fótons e cores, e as ruas
se apinham de automóveis das mais variadas marcas e modelos,
a exibir o status
dos seus donos; enquanto os aviões relâmpagos de
aço rasgam os azuis dos
céus, gordos de gente, e as bolsas dançam sua gangorra
nervosa do sobe-edesce,
nos quatro cantos do mundo, um medonho espetáculo apavora o homem:
filhos do abandono brotam nos lixões
como lírios ulcerosos de canteiros incômodos.
No esplendor das ruas, flanelinhas mostram a nudez desconcertante
das costelas e estendem as mãos magras e ameaçadoras.
Nos rasos das catarinas
agrestes, retirantes protagonizam, com a fome e a sede, uma dolorosa
tragédia.
Em que intricada matemática estaria o teorema ou a solução
para o problema?
É quase certo que não esteja
no poderio exacerbado das máquinas, tampouco
no lúcido raciocínio dos gênios da humanidade. Se
assim fora, a geração do
século das luzes e, hoje, a nanotecnologia já o haviam
equacionado. Muito menos
alguém o encontrará nos discursos messiânicos dos
palanques políticos, nem
mesmo nas prédicas filosófico-religiosas dos púlpitos
e igrejas. Rousseau e
Proudhon asseguram que esse mal tem raízes fincadas na questão
da propriedade
em vez da posse. Outros apontam a espoliação do capital
especulativo estrangeiro.
O certo é que o homem, esse ser
racional que ainda não encontrou
uma vacina eficaz para estancar o avanço das mazelas sociais,
há de buscar em
outras fontes a solução para a questão angustiante
do "apartheid" econômicofinanceiro
em que se mergulharam as nações.
A resposta pode estar e é
factível que sim no recôndito da alma humana.
Há que se reconstruir o homem, retirar-lhe do peito o império
da cifra e
reimplantar-lhe um novo coração, mais anímico,
menos maquinal. Há que se
aprender a tecer uma nova teia social, onde os laços não
sejam estanques,
excludentes, mas um traço de união, um abraço de
"anjos de uma asa só", para
possibilitar o vôo até uma civilização menos
doentia, mais duradoura. Reaprender
o afago, ainda que de olhar; reabilitar a ternura, ainda que tímida
e tardia.
Exercitar a difícil partilha de poder, desviar um pouco os olhos
do próprio umbigo
e enxergar o outro como semelhante.
Já se teme não alcançar
a meta estipulada de redução da pobreza e da miséria
até 2015. O inchaço das metrópoles se dá
a cada ano em tamanho, solidão e
medo. Ou o se aprende a domar a gana, estancar o rio do individualismo,
ou o
ar rarefeito dos palacetes casmurros e lacrados sufocará seus
poucos monarcas.
Ou se formula um teorema urgente para se aplacar o vulcão do
caos social, ou a
esfinge da exclusão acaba por devorar a paz. Aí, sim,
tão-somente restará, perplexo,
por sobre o abismo da raça humana dizimada, o anjo do Apocalipse.
( André Magalhães Lima - UFBA - Universidade Federal
da Bahia - Salvador - BA )
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